Gilberto Canabarro é empresário, nascido e criado em Porto Alegre. Trabalhou por anos em uma loja de componentes eletrônicos na Rua Alberto Bins, no Centro Histórico. Decidiu começar a empreender na mesma área nos anos 1980, quando foi à China pela primeira vez. Na década seguinte, começou seus negócios no país asiático, porém ainda morando no Brasil. Após a abertura da importação, em 1992, os negócios se intensificaram, de forma que não havia mais como fazer uma boa administração remotamente — por este motivo ele se mudou para a Ásia, contou em entrevista ao podcast Nossa Economia, de GZH.
Quando chegou a Shenzhen, cidade que morou por anos, o local era uma "vila de pescadores", relembra. Desde então, Gilberto acompanhou o crescimento vertiginoso da região, que se tornou um polo de tecnologia. Hoje ele mora no município ao lado, Zhongshan. Sua empresa, a Comred Holdings, cresceu junto, e acaba de abrir uma filial no sul do país. Eles trabalham com soluções de logística e fabricação de carga. Seus clientes são empresas na área de eletrônicos, grande parte do Rio Grande do Sul.
Desde a chegada da pandemia em 2020, o empresário gaúcho conta que a situação nunca, de fato, voltou à normalidade. Arrefeceu em alguns momentos, mas viajar, por exemplo, ainda é uma tarefa muito difícil. Os negócios foram diretamente impactados pelo vírus, principalmente por problemas de abastecimento. As restrições impediram voos internos e a falta de micro componentes, como chips, que começou naquele ano, afetou diretamente a empresa de Gilberto, que trabalha com esse produto.
— Não tem componente para todo mundo. O mercado virou uma coisa completamente difícil. Hoje leva quem paga. Temos casos, inclusive de indústrias gaúchas, que pagavam US$ 2 ou US$ 4 em um componente, e hoje pagam US$ 150 no mesmo componente. Isso virou um absurdo. Também temos casos aqui (na China) casos de quem pagava US$ 40 e hoje paga US$ 1.400 para ter um componente, especialmente um chipset, usado em computadores, que é o processador, a peça mais importante da máquina — disse Gilberto.
Além deste problema, Gilberto relatou que a logística ainda é afetada no país. Os lockdowns — medida adotada por muitos países em momentos mais graves da pandemia — ainda ocorrem com frequência na China. O país adotou uma medida chamada "covid zero", para evitar surtos da doença.
— Tivemos um problema seríssimo em Xangai, que fechou por 70 dias. A indústria parou completamente. Teve essa parada grande em Xangai, e todas as províncias da região fecham quando identificam dois, três, quatro casos. Isso é a política de "covid zero". E o que acontece é que são fechadas regiões ao entorno de onde aconteceram os casos.
Por esse motivo, diz Gilberto, chega a ser difícil até prever quando o material de um fornecedor chegará:
— Você nunca sabe se um fornecedor entregará o material, porque pode ser que ele esteja em lockdown. Existe um controle forte do governo e tem funcionado de uma certa forma porque os casos de mortes aqui foram muito menores do que no resto do mundo. A gente vive dentro de uma tranquilidade em relação a isso, mas nos negócios é um problema.
Mais para o fim da entrevista, Gilberto trouxe um pouco de otimismo com a notícia de que Hong Kong abriu suas fronteiras no dia 1 de julho. Outro sinal positivo é a abertura de Macau, região importante para a economia chinesa. Para novembro deste ano, o empresário disse que há rumores de que a China inteira se abra para o resto do mundo.
— Recentemente divulgaram uma nova norma de flexibilização no dia 28 de junho, onde eles flexibilizam funcionários de embaixadas. Conheço boa parte do pessoal das embaixadas, especialmente do nosso país, e o pessoal não conseguia voltar ao Brasil, nem de férias. Isso foi flexibilizado faz pouco tempo — contou.
Gilberto disse que tem residência permanente no país. No ano que vem vai conquistar seu greencard, após um processo longo que durou mais de 10 anos. Ele se casou com uma chinesa, Huilian Long, e com ela teve dois filhos: Paolo, de 10 anos, e Meilie, de 7, na foto ao lado.
Ouça a entrevista completa:
Colaborou Guilherme Gonçalves
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Equipe: Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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