A inflação não nasce na prateleira. A alta de preços percorre toda a cadeia econômica antes de chegar ao consumidor. Às vezes, margens de lucro são ampliadas. Às vezes, esmagadas. A capacidade de pagamento do cliente é essencial na tomada de decisão. Para entender como é ser supermercadista em tempos de inflação alta, o podcast Nossa Economia ouviu o empresário Bruno Lang, proprietário do Super Lang:
Como é?
É ter capacidade de se adaptar todos os dias. O supermercado é o elo entre a indústria e o consumidor. No meio, tem que atender bem o cliente, mas buscar soluções junto com a indústria em forma de parcerias e promoções para entregar um produto que só vem aumentando de preço. Todo o dia é uma surpresa diferente, é o leite que dispara...
Quando recebe tabelas de altas fortes, como no leite, qual a reação?
Aqui no mercado, trabalhávamos com duas ou três marcas líderes de leite. Mas chega a tabela nova e dizem: "olha, esse é o preço, quer comprar?" Não quer, fica sem. Então, procuramos outros fornecedores, marcas secundárias, para dizer ao teu cliente: "ó, eu tenho essa marca que eu sempre trabalhei a R$ 6, R$ 6,50, e eu busquei essa a R$ 5,50". Estamos trabalhando com margem zero no leite.
É para atrair cliente?
Há essa estratégia comum de mercado para vender outros produtos. Mas neste momento, tem um intuito social. No meu mercado, que é loja de bairro, não temos essa política tão agressiva. Eu acho complicado vender a R$ 7 o litro para o meu cliente que eu conheço há anos, que eu sei a situação. Vale o mesmo para óleo de soja, café, itens da cesta básica.
Como fica a margem de lucro?
O supermercadista está perdendo margem, porque a indústria repassa um preço, mas ele não consegue revender para o consumidor com a mesma diferença de antes. Então, vejo os supermercadistas jogando o preço em outras coisas, criando ações. Fizemos festa de São João, vamos criar o dia da pizza. Acredito que o supermercado vai agregar em serviços, não apenas ganhar em cima do preço do produto.
Está mesmo tudo caro, não?
Sim, temos essa total noção. Um exemplo: no inverno, vendemos muito leite condensado, mas todos os derivados do leite subiram muito. Aí, tu tem que buscar uma mistura láctea para que o cliente consiga comprar.
Como ficam os muitos supermercados abertos desde o início da pandemia, quando as vendas subiram bastante?
Eu já estou recebendo propostas de supermercadistas: "tu quer comprar minha loja?" Acredito que vai ser um período turbulento, porque o supermercadista é guerreiro e quer se manter. Vai buscar recurso com terceiros, vai tentar se adaptar. Quem fez o investimento em lojas maiores vai se manter, mas quem pensava em uma reforma, em abrir uma nova loja, vai pisar no freio. As margens estão baixando muito, a venda está estagnada.
Ouça a entrevista completa:
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Equipe: Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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