Desde que a Petrobras mudou sua política de preços da gasolina e do diesel, o brasileiro tem aprendido a associar as quedas e altas do petróleo no mercado internacional a repasses para as bombas. Com o avanço do coronavírus, a economia global dá sinais de desaceleração, o que reduz o consumo de combustíveis e provoca queda no preço do "ouro negro".
Isso vinha se intensificando nas últimas semanas, inclusive fazendo a Petrobras já cortar os preços nas refinarias. A última redução ocorreu no final de fevereiro. Os preços do diesel foram cortados em 5% e os da gasolina, em 4%.
No final da semana passada, a questão do petróleo esquentou. A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) buscou um acordo para segurar preços, reduzindo produção. A Rússia não aceitou, já derrubando o petróleo nos mercados na sexta-feira (6). No final de semana, a Arábia Saudita anunciou retaliação, aumentando produção e reduzindo preços. A guerra de cotações entre os dois países provocou uma queda que superou 30% na commodity já na abertura dos mercados, reduzindo a intensidade depois.
Leitores, então, perguntam desde ontem se isso chegará no posto onde abastecem seus carros. Por mais que a Petrobras não faça repasses imediatos quando há forte oscilação de preços, a tendência é que sim, os combustíveis tenham redução nas refinarias. É bem provável que a estatal lance algum comunicado ainda nesta segunda-feira (9), no mínimo, avisando que está monitorando os mercados.
É de comemorar? Infelizmente, não. Há outras implicações fortes dessa tensão política e econômica, sem contar que o avanço do coronavírus gera preocupação social, além de elevação de gastos. A redução no preço dos combustíveis por esses motivos não é saudável. O mercado financeiro sabe disso, provocando a queda nas bolsas neste início de semana.
Como exportadora, o caixa da Petrobras sofre com a queda brusca no preço do petróleo. Lembrando que a empresa é uma das maiores do Brasil, movimenta cadeias econômicas inteiras e tem muitos acionistas, inclusive os pequenos que aplicaram nela seu FGTS. Há até quem fale que o governo poderia aumentar a incidência da Contribuição de Intervenção do Domínio Econômico (Cide) sobre os combustíveis para preservar o caixa da Petrobras.
Além disso, crises fazem os investidores buscarem ativos de menor risco, como o dólar. O real que já está desvalorizado pode perder ainda mais para a moeda norte-americana. Fora que o câmbio ainda pressiona o preço dos combustíveis, pois a Petrobras também é importadora. Sem contar a pressão do dólar sobre aqueles itens básicos que falamos sempre, como o pão nosso de cada dia. Cai o preço da gasolina de um lado, aumentam gastos familiares de outro. A renda segue comprometida. Há quem considere provável que o dólar comercial bata R$ 5 nesta segunda-feira (9), mas depende da reação à atuação do Banco Central no mercado. A autoridade monetária já anunciou leilão de US$ 3 bilhões para a abertura das negociações futuras.
— É três vezes o valor normal — comenta o analista de mercado Wagner Salaverry, sócio da Quantitas Asset.
Químico industrial, Marcelo Gauto projeta efeitos de prazo mais longo. A queda brusca no preço do petróleo provoca um efeito rebote.
— Alguns produtores reduzem investimentos e a produção começa a declinar. Os preços sobem por essa redução, algo que demora a se recuperar. Quanto mais longa for essa redução de preços, mais grave pode ser o efeito lá adiante.
Na bomba
Após cinco semanas de queda e uma de estabibilidade, o preço da gasolina voltou a cair no Rio Grande do Sul. A pesquisa da Agência Nacional do Petróleo (ANP) identificou uma redução pequena na média do litro na última semana, para R$ 4,65.
O pico histórico de preço da gasolina nos postos gaúchos foi em outubro de 2018, quando o petróleo estava em forte alta no mercado internacional. Naquela época, a ANP chegou a divulgar uma média de R$ 4,95 no Estado.
Colunista Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Colaborou Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br)
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