As datas nos encurralam como horror e lição a evitar para que jamais se repitam. A tragédia da mina de Brumadinho (MG) completa um ano neste sábado.
A da boate Kiss, em Santa Maria, fará sete anos neste 27 de janeiro. Em ambas, a irresponsabilidade empresarial guiada pela cobiça transformou-se em destruição e assassinato a esmo.
Lá ou aqui, nada foi ao acaso. Em Santa Maria, para aplacar o ruído, o teto foi "isolado" com material barato e inflamável, à base de petróleo. No salão escuro sem portas de emergência, os "seguranças" impediam a saída de quem "não pagasse a conta". A atração da noitada era o fogaréu da banda e a boate virou inferno terrenal.
Só agora, sete anos depois, com o horror já distante e amortecido no tempo, os réus (todos em liberdade) vão a júri em Santa Maria, menos o dono da boate e articulador do crime em si, beneficiado com insólito julgamento na Capital, longe do núcleo da tragédia. Antes disso, os familiares dos 242 mortos, ao protestarem pela leniência e lentidão em tudo, foram processados por "injúria" pelos promotores de Justiça...
Contrapondo-se à nossa benevolência com o crime, em MG os diretores da empresa exploradora da mina de Brumadinho foram denunciados, agora, pelo Ministério Público de lá, junto com os gerentes da companhia alemã de auditoria, por conhecerem de antemão o perigo de rompimento das barragens e nada terem feito para evitar o desastre.
Desdenharam os laudos técnicos por cobiça, para não gastar e, assim, aumentar o$ lucro$ mesmo sabendo que o rompimento deva$taria terra$ de lavoura e rio$, e poluiria o ar, além de matar.
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Se a Cia. Vale, maior mineradora do Brasil e segunda do mundo, com o "máximo do máximo" do tal ISO 14001, fez isso, o que podemos esperar das de menor porte, que no Rio Grande buscam carvão mineral?
No passado fim de semana, extensa reportagem deste jornal mostrou os danos que a pretendida mina de carvão a 12 quilômetros da Capital, junto ao Jacuí, pode provocar no futuro abastecimento d'água da área metropolitana. Por precaução, o Dmae desistiu de coletar água junto ao Delta do Jacuí, um "filtro natural" a ser afetado e poluído, porém, com a pretendida mina.
A água é o bem essencial. Só houve vida na Terra a partir da água. Aqui, porém, nos suicidamos no horror das mudanças climáticas provocadas pelos combustíveis fósseis, como o carvão. Logo, disfarçamos, como o fez em Davos o ministro Paulo Guedes, ao apontar o descuido com o meio ambiente na Amazônia como resultado do "combate à fome"...
O fórum econômico, porém, de novo foi exigente com a defesa do meio ambiente, mostrando que respeitar a natureza não é uma invenção fantasmagórica da "esquerda", mas exigência vital.
Por isto, como em oração, digo: Dai-nos Davos e não tolos mitos ou diabos