A interrogação é uma só: a guerra de números das "pesquisas de intenção de voto", em que 2 ou 3 mil pessoas fingem ser mais de 147 milhões de eleitores, pode nos guiar na escolha correta do presidente da República?
E se outros fossem os guias? Não seria mais importante pesquisar sobre a experiência e a dedicação administrativa dos candidatos? Escolher presidente da República, governador ou parlamentares não é apontar os números da Mega Sena acumulada por ímpeto ou palpite. Quem guia ao voto é o histórico de vida.
Entre nós, porém, tudo pode ser um tacanho jogo de probabilidades matemáticas. Qualidades e experiência já não contam. A transformação da política num perverso instrumento de corrupção gerou uma revolta tão profunda, que nos faz perder o tino. E, de boa-fé, muitos são levados, até, a optar por quem promete e propaga violência e ódio como "salvação".
Essa simplificação é uma perversão eleitoral tão atroz quanto a corrupção e a mentira que fizeram da política um lodaçal, levando à prisão o petista e ex-presidente Lula da Silva ou Eduardo Cunha e o megaladrão e ex-governador do Rio Sérgio Cabral, do MDB.
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A pequenez do ódio jamais foi solução, mas é o mecanismo com que um candidato caça votos.
Na última quinta-feira, dia 4 (ao retratar o apoio e as ressalvas dos próprios militares a Jair Bolsonaro), este jornal explicou que o atual candidato deixou a farda em 1988, após ser denunciado por pretender detonar bombas nos próprios quartéis para "forçar aumento" na remuneração. Lembrou que, já na política, ele sugeriu "matar milhares" e "prender políticos", além de "fuzilar o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso".
Em tempos de bonança, ninguém deu atenção à absurda pregação de "guerra civil" do deputado Bolsonaro, que (com a naturalidade de quem toma um café) calculou, até, que haveria "uns 30 mil mortos"...
No debate final entre os candidatos na TV Globo, quando seria indagado por tudo isso, ele não compareceu. Alegou restrições médicas devido à facada de um mês atrás. Mas Henrique Meirelles (respondendo a Ciro Gomes, que foi ao debate anterior com uma sonda, com infecção na próstata) recordou que o ausente, "sem ser capaz de enfrentar as intempéries", no mesmo momento ocupava longos espaços "num ambiente preparado" em outro canal. Referia-se à TV Record, administrada por Edir Macedo, que em nome da Igreja Universal apoia o ex-militar.
As interrogações se acumulam. O voto deve responder.