* Jornalista e escritor
O alerta vem de longe. A transformação da política e dos governos em covil de feras disputando a carniça é tão antiga que "moralismo'' virou ofensa. E, pior ainda, crime e corrupção são vistos como algo "natural'', tal qual a necessidade fisiológica vital de comer e descomer.
Em abril de 1993, o general João Baptista Figueiredo – indagado sobre os seis anos em que presidiu a República – exclamou sem titubear: "Eu fui uma besta. Aquilo lá era uma quadrilha".
De 1979 a 1985, Figueiredo governou em ditadura sem se portar como ditador. Ouviu as ruas, repeliu a direita civil-militar, levou adiante a anistia e a redemocratização. E foi o mais sincero de nossos governantes. Ou o único.
Além dele, quem se animou a autoproclamar-se ''besta'', um quadrúpede enganado pela aparência faustosa de chefiar o governo quando, de fato, presidia uma quadrilha?
A República da ministra-condenada virou a besta Brasil?
***
A quadrilha modernizou-se e se escancarou na democracia. Sob a alegação de que era "legítima" e que o voto popular lhe dava todo o poder (até o de mentir e roubar), perdeu todo o pudor. E, hoje, o crime mancha todos os partícipes do poder.
Dizer que o PMDB é a nau-capitânia da rapina montada pelo PT e pelo PP nos tempos de Lula é só uma simplificação para o povo entender mais facilmente o crime. Todos têm culpa (até o PSDB) e apenas dividem tarefas com o mesmo fim.
Desde que Temer assumiu o governo, porém, o horror cresceu em fúria e perdeu o recato. Fica nu em público, exibe as partes íntimas e os escândalos se amontoam.
***
Agora, além de escândalo, a nomeação da deputada Cristiane Brasil como ministra do Trabalho é um acintoso escárnio ao Brasil-nação.
Em duas instâncias, a Justiça Federal impediu a posse, interpretando a nomeação como "um desrespeito à moralidade administrativa". O único feito notável dessa deputada do PTB foi ter sido condenada pela Justiça por não pagar seus próprios empregados. Mas Temer insiste em que uma sentenciada por desrespeitar as leis trabalhistas implante a nova legislação do Trabalho...
Outro detalhe completa o quadro aterrador: ela foi indicada pelo pai, o ex-deputado Roberto Jefferson, presidente do PTB e beneficiário maior dos milhões do "mensalão" no governo Lula. Delator daquilo que parecia um escândalo isolado, foi condenado por corrupção e lavagem de dinheiro. Em 2014, porém, indultado por Dilma e perdoado pelo Supremo, Jefferson outra vez passou a grão-senhor da política nacional.
A República da ministra-condenada virou a besta Brasil?