Dentre todos os seres vivos que coabitam este planeta, prefiro as árvores – talvez por já ter sido uma (como contei aqui faz um tempo). Sim, graças à expansão da consciência propiciada pela dietilamida do ácido lisérgico, certa vez, ao abraçar o tronco dum pinheiro, em plena serra gaúcha, resgatei minha encarnação em forma de araucária. Há 200 milhões de anos neste planeta, a araucária é nativa do sul do Chile e, por meio do vento e dos pássaros – nomeadamente a gralha-azul – expandiu-se pelo continente. Já havia conquistado até a Serra da Mantiqueira quando os europeus chegaram. Ao contrário dos caingangues – que mantinham relação quase simbiótica com a árvore –, os alienígenas logo deram início ao massacre da serra (primeiro manual, depois elétrica). Cem milhões – isso: 100 milhões! – de pés seriam abatidos e esquartejados. Junto, dar-se-ia o massacre do Contestado, quando 10 mil desvalidos foram mortos num conflito rural que em 1916 lembrou Canudos, em pleno Sul Maravilha.
Eu, árvore
Prefiro as árvores a qualquer outro ser vivo do planeta
Ando pensando nos guapuruvus e jacarandás que, durante a Feira do Livro, transformam o chão da Praça da Alfândega num tapete roxo e amarelo
Eduardo Bueno