Havia três hollywoods no quintal. Eram frondosas, de casca enrugada e galhos retorcidos feito braços de uma deidade hindu projetando uma veneranda sombra. Sim, hollywood, como seria óbvio intuir, é uma árvore. Adoro árvores, estudo as árvores, até já fui uma árvore – ainda assim, ignorava a existência dessa espécie sagrada, tão similar às corticeiras da serra gaúcha. A casa, de madeira e vidro, lembrava a mítica cabana de Thoreau no lago de Walden, só que maior, aninhada na mata numa travessa umbrosa de Sunset Boulevard, em Los Angeles, pertinho de... Hollywood. O chalé tinha um quarto de hóspedes com uma cama dura como a de um iogue. "Anatoli Boukreev dormia aí", disse o anfitrião em tom solene. Quem leu o best-seller No Ar Rarefeito, de Jon Krakauer, sabe de quem se trata, embora ali Krakauer pinte esse heroico alpinista russo como um vilão. Ainda bem que tomou um soco por conta disso, mas esse é outro assunto. (Se você me pagar por fora, talvez um dia eu conte.)
Epitáfio
Voar sem asas
Morreu coisa nenhuma. Basta você colocar Tom Petty no prato, na tela, no fone, no monitor para comprovar
Eduardo Bueno