Antes de mais nada, é injusta a leitura de que a diferença foi pequena. De fato, os 45% de Roberto Melo indicam que Alessandro Barcellos está longe de ser unanimidade no Inter com seus 53% sobre cerca de 29 mil eleitores. Mas não se trata de matemática. A verdade é que, conseguir a reeleição após três anos de gestão e nenhum título, é algo muito significativo e merece reflexão.
No Brasil, reina o império do resultado. Barcellos conseguiu comunicar ao sócio do Inter que, tudo bem, o título não veio, mas a semente foi plantada. E, portanto, a colheita virá com o tempo — no caso, mais três anos de mandato. A análise mais fácil de fazer na campanha do Inter é a de que Barcellos se comunicou muito melhor, seja ele pessoalmente, com ótima oratória e entusiasmo na defesa de suas ideias, ou do seu estafe, durante a busca de votos.
O fato de a oposição não ter conseguido encarnar uma palavra-chave de qualquer eleição quando as vitórias faltam — mudança —, também ajudou no triunfo do presidente reeleito. Roberto Melo passou não faz muito tempo pela direção e também não festejou taças. Outro ponto que torna a vitória de Barcellos muito maior do que a apertada diferença de votos é o palanque pesado do adversário.
Melo tinha Fernando Carvalho, Giovanni Luigi, Abel Braga e D'Alessandro ao seu lado. Todos muito campeões e ídolos. A última imagem do campo, com quatro vitórias seguidas no Brasileirão, teve impacto? Sim, claro, mas penso que a maneira como o Inter quase foi à final da Libertadores, à bordo de um modelo de jogo corajoso e com bom futebol, essa sim sensibilizou parte expressiva do eleitor. O país opinou que o Inter foi melhor na semifinal contra o Fluminense. Ali o orgulho e a esperança voltaram, apesar de tristeza.
Por fim, um fenômeno político na vida do Inter também ajudou Barcellos em sua reeleição. O Povo do Clube, formado por colorados mais jovens, é um movimento que só cresce. Para o Conselho, concorrendo sozinho, a chamada chapa pura, elegeu 44 conselheiros, só quatro a menos que a chapa de oposição, formada por vários grupos, e nove a mais do que a do próprio Barcellos. Aproxima-se a eleição em que o Povo do Clube terá candidato próprio à presidência.
A tarefa número 1 de Barcellos, a partir de agora, tem de ser a pacificação política. O Inter campeão, historicamente, em qualquer época, é o que se apoiou numa hegemonia política sólida e espraiada. O discurso de reeleito foi nesse sentido, algo muito positivo. É isso mesmo. Assim que a poeira baixar e as dores de quem perdeu amainarem, essa tarefa tem de ser perseguida. Quanto mais massa crítica perto do clube, melhor. Ao fim e ao cabo, são todos colorados. O episódio eleitoral tem de ser superado.