Perto da maneira como o Brasil tombou diante da Croácia no Catar, a dor da eliminação da Rússia virou brincadeira de criança. Contra a Bélgica, o Brasil saiu perdendo desde o início. Agora, não. A Seleção vencia na prorrogação com um golaço de Neymar, imitando Pelé. Faltavam dois minutos para o fim da maldição de cair nos matas para europeus, mas em Copa do Mundo não pode haver um segundo sequer de relaxamento. E o Brasil relaxou. E foi nesse instante de relaxamento, diante de um adversário com notável capacidade de luta, liderado por um gênio chamada Luka Modric, que não conjuga o verbo desistir e proíbe seus companheiros de o conjugarem, que a tragédia se consumou.
Depois de Neymar assinar uma obra de arte, driblando o goleiro e entrando com bola e tudo, destravando um jogo no qual a Croácia se defendia com impressionante disciplina, pontuada por uma atuação lendária do goleiro Livakovic, o Erro Mor. Era hora de prender a bola ou fazer fazer a falta tática lá na frente, sem jamais deixá-la chegar perto de Alisson. A sorte não sorriria para Perisic, errando o chute que desviou em Marquinhos e traiu Alisson, se Fred não a perdesse infantilmente no ataque.
Foi esse gol de empate croata inacreditável, em contra-ataque, no finzinho, que matou o Brasil. Nos pênaltis, a Seleção já chegou derrotada. Talvez até por isso a decisão de Rodrygo para abrir as cobranças, e não Neymar. Ninguém conseguia mais pensar com lucidez. Que o craque batesse o primeiro pênalti, para reduzir a chance de sair atrás após o baque emocional da ressurreição croata na prorrogação. Mas foi Rodrygo, e ele errou. Por fim, Marquinhos acertou na trave, enquanto os croatas, como se fossem algoritmos frios e calculistas, acertaram tudo.
Uma derrota muito mental, sem dúvida. Sobrou cabeça fria na Croácia nos momentos decisivos, como quando tomou o gol e não esmoreceu. Faltou ao Brasil, que, após abrir o placar, desfocou e ficou esperando o árbitro encerrar. No jogo, foram 16 chances claras para o Brasil, com uma única da Croácia.
Só o Brasil atacou. Só a Seleção Brasileira arriscou. Não digo que foi injusto porque um time que chuta 16 bolas no gol e, para marcar, seu camisa 10 tem de driblar o mundo inteiro, tem um grau terrível de ineficiência. O que o Brasil perdeu de gols foi quase indecente.
Neymar fez a sua parte, mas os coadjuvantes de luxo sumiram. Vinicius Júnior foi engolido por um lateral-direito do Celtic, da Escócia. Rodrygo ao menos participou do gol de Neymar, mas falhou no pênalti. Nos próximos dias, as causas de mais uma eliminação precoce em Copa serão melhor diagnosticadas. Faltaram testes contra europeus? Time aberto demais? Lesões na reta final? Sorte e azar? Ansiedade no último lance? Fracasso pessoal de Fred?
De todas essas razões, só tenho certeza de uma nesse momento: o aspecto mental. A Croácia pode não ter jogado melhor, mas soube ser muito mais forte e fria sempre. Nunca perdeu a cabeça. Foi o triunfo de quem entrou “para jamais desistir”, como resumiu Modric, mas também o do controle mental.
Nisso, a Croácia foi de aço. E o Brasil, de papel.