A questão não é Neymar apoiar um candidato, no caso Jair Bolsonaro. É direito sagrado de todo cidadão. Atletas têm mais é que participar. Participação política faz bem para a democracia. Quem sabe, um dia, isso seja tão normal que nem vire objeto de discussão. Vale para os que apoiaram o presidente derrotado e os que defenderam Lula, o vitorioso.
O que ficou ruim é essa dívida com o Fisco. Em 2014, a Justiça determinou o bloqueio de R$ 188,8 milhões do jogador e de empresas ligadas a ele. Dois anos depois, o valor foi reduzido a R$ 8 milhões. A pendenga segue. Neymar não pagou.
Como nunca foi militante político, passou a ideia de que, na sua cabeça, o apoio a Bolsonaro tinha como objetivo o perdão da dívida. Ou algum tipo de ajuda nos bastidores. Não digo que FOI deliberado, mas que PARECEU.
Só que nada disso tem ver com a Presidência da República. Um presidente sério não iria interferir na Receita. Duvido que Bolsonaro agisse assim, certo? E nem Lula o fará. É assunto para o Fisco e a Justiça.
Como seria comigo, com você e com qualquer cidadão. Presidente não é monarca absolutista. Tem de ser como na Espanha, onde Neymar foi processado — e absolvido, inclusive. Simples assim.
Foco na Copa
Só espero que essa polêmica não interfira na Seleção durante a Copa. União é fundamental em uma campanha vencedora. Neymar acelerou firme para um lado de um país dividido como nunca se viu, então é óbvio que uma parte ficou chateada, pelo nível de intolerância à direita e à esquerda. Meu receio são as redes sociais.
Os jogadores passam o tempo todo ligados. Tomara que esse episódio não entre no vestiário, desfocando do principal.
A Seleção é de todos. Posições políticas são pessoais. Não podemos misturar. Petistas têm de ver Neymar como o 10 do Brasil. Bolsonaristas não podem usar a Copa como palanque de terceiro turno. Conseguiremos?