Para Renato Portaluppi, cujo crédito é enorme no Grêmio por méritos fartamente conhecidos, nenhum resultado afetaria a sua trajetória como técnico. Nem mesmo se fosse eliminado pelo Inter após abrir vantagem de 3 a 0 na Arena.
No conjunto da obra, de três clássicos em 10 dias, ele ganhou dois. Portanto, apesar de erros como deixar Arthur no banco e apostar em Cícero e Jailson como volantes, nada respinga na caminhada vencedora. Até porque, vale lembrar, logo ali adiante será campeão gaúcho, conforme opinião do colunista.
No caso do Grêmio, a classificação com derrota não abala a confiança. Pode até ajudar a não cometer o pecado da soberba, quem sabe se achando algo próximo ao Manchester City – se é que essa possibilidade existia de fato.
Marcelo Grohe, sempre ponderado e racional, admitiu a superioridade do Inter no Beira-Rio. Acerca da chance real de o Inter devolver o 3 a 0 e levar a decisão da vaga para os pênaltis. ele resumiu: "Que sirva de lição".
Quem, então, foi o grande vencedor do Gre-Nal 415? Sem dúvida, Odair Hellmann.
O rótulo de perdedor de Gre-Nal começava a colar no técnico colorado, ainda mais em razão de dois placares: o 5 a 0 de 2015 e o 3 a 0 do último domingo. Lá em 2015, avisaram-no que seria o treinador no clássico em cima da hora, após a demissão de Diego Aguirre. O que ele poderia fazer? Nem treinou direito. Agora, pegou um Grêmio entrosado e campeão. Em 2018, derrotas por 2 a 1 (última rodada da primeira fase) e na Arena. Contextos autoexplicativos, mas quem lembra deles?
Ao jogar todo esfarrapado no Beira-Rio, sem três titulares absolutos (Pottker, Damião e Klaus) e ainda sem poder contar com outras sete opções entre os reservas, Odair tirou coelhos da cartola diante do favorito. No primeiro tempo, recheou a faixa central com quatro volantes: Patrick pela esquerda, Gabriel Dias e Edenílson por dentro, além de D'Alessandro na esquerda. Atrás deles, Rodrigo Dourado.
Postado dessa maneira, sem centroavante e com Nico López na frente, só não teve mais posse de bola durante 13 minutos do primeiro tempo. Abriu o placar com o uruguaio de pênalti, graças ao volume maior de jogo, mesmo sem tanta penetração pelo chão.
Na volta do intervalo, Odair foi arriscando aos poucos. A 2 minutos, tirou o lateral-zagueiro Fabiano e inseriu o centroavante Brenner, devolvendo Edenilson à lateral direita. O desenho do time fica igual ao do desterro da Arena, apenas sem Roger e Marcinho. Os dois atacantes passam a ser Nico e Brenner. Os ajustes melhoram o Inter.
A dominação aumentou mesmo em outro modelo, proposta e escalação. Vem o segundo gol, de D'Alessandro, a 21 minutos. Com a dignidade recuperada, Odair pensou grande. Ele termina o Gre-Nal empurrando o Grêmio para trás, com cinco homens de frente: Nico, Camilo, D'Alessandro, Wellington Silva e Brenner.
Em resumo: na primeira parte, cheio de desfalques e repleto de volantes, arrumou um jeito de se defender e não deixar o Grêmio jogar. Na volta do intervalo, a segunda parte do plano: muitos atacantes sem perder a solidez defensiva.
O Inter atuou com 2 a 0 no placar durante meia hora, dando um susto no Grêmio. Que, dessa vez, em momento algum da partida, conseguiu se impor. Terminou o clássico envolvido, tirando a bola da área do jeito que dava. A posse de bola fechou em 60% a 40% para o Inter, sem falar no número de passes certos: quase o dobro, com 351 a 178.
Portanto, a maneira como Odair juntou os cacos da derrota por 3 a 0 na Arena, fazendo os jogadores esbanjarem garra mesmo diante do improvável, além das soluções encontradas em meio a tantos desfalques diante de um adversário poderoso, não deixam dúvida: ele, Odair, foi o grande vencedor do Gre-Nal 415.