Será a primeira vez dele no Beira-Rio contra o Inter depois de ter se convertido em um dos maiores ídolos da história vermelha. Não há um só colorado capaz de esquecer aquela defesa no ângulo em Yokohama, há 11 anos, quando Deco acertou quase na junção da trave e do travessão, mas a mão de raquete (é um de seus apelidos) ocupou o espaço e reescreveu a história do Inter para sempre. Se o Barcelona empata naquele lance, os colorados talvez não passassem a última década indo dormir, todos os dias, com a certeza de serem eternamente campeões do mundo. Eis a dimensão do que, para além do Inter, buscando subir o quanto antes, e do Xavante, buscando não cair o quanto antes, ocorrerá nesta segunda-feira, quando os dois times pisarem o gramado. O jogo tem um personagem: Clemer, técnico do Brasil-Pel e goleiro multicampeão com a camisa do Inter.
Às voltas em somar os pontos que as projeções indicam como porto seguro para evitar o rebaixamento, Clemer se equilibra entre uma dor de garganta e o planejamento da partida. Talvez nem saiba que a última vez que enfrentou o Inter foi há 18 anos, pelo Flamengo. Depois de virar ídolo colorado, nunca. O Xavante tem 37 pontos. Faltariam, portanto, oito pontos. O personagem da noite de abertura da 29ª rodada está otimista. Entende que a oscilação é normal diante do que está tentando fazer: mudar o conceito, da ligação direta para a bola no chão, dentro dos limites possíveis em um clube do Interior.
As atuações, de fato, não têm sido ruins. A própria resposta após a derrota fora da curva, zebra mesmo, para o Luverdense, em casa, após perder no contra-ataque, foi boa. Em Goiás, a vitória escapou no finzinho, diante do Vila Nova. Em seguida, 1 a 0 no Juventude. E agora, o Inter. Pois, é, Clemer: o Inter. Como será?
– Vou confessar: tô meio assim. Não sei qual será a minha reação ali, na hora. Depois de a bola rolar será diferente. Aí você foca no jogo e esquece todo o resto. Mas antes... Não sei. Será que eles vão me vaiar (risos)?
Clemer conta como tem sido o contato com os torcedores do Inter. Anda se divertindo:
– Os colorados chegam em mim e dizem assim: tu é o cara! Pedem um autógrafo, lembram daquele Gre-Nal, tiram foto, mas depois vem a vacina: mas tu, contra o Inter, aí não vai dar, né? Desculpa, mas no jogo... Aí eu digo: mas é claro, o clube sempre à frente. Só pega leve na vaia para mim lá.
E ficam, ídolo e fã, dando risada. Clemer entende que pode pintar alguma vaia, mas sabe que é assim mesmo no futebol. É a paixão. Os colorados querem exorcizar a Série B o mais rápido possível, e ganhando do Brasil-Pel, em tese, faltarão só mais duas partidas. Clemer assumiu no lugar de Rogério Zimmermann, com o estrito objetivo de não cair, no dia 21 de julho. Somou 20 pontos em 39. O seu aproveitamento pessoal, de 51,5%, o colocaria na briga por G-4. Mas números pessoais não adiantarão no Beira-Rio. Clemer afirma que seu time joga. Vê a vitória como muito difícil, graças a estabilidade alcançada pelo Inter e o embalo da torcida:
– Inter é um turista Série B: está nela de passagem. Todo mundo sabia disso.
"A única batalha que se perde é a que não se luta", repete Clemer aos seus jogadores.
A batalha toda terá, nos 10 jogos que faltam, América-MG, Santa Cruz, ABC, Paraná e Criciúma no Bento Freitas. Os oito pontos para escapar, em tese, devem vir daí – e não do que ocorrer na noite desta segunda-feira, no Beira-Rio. Noite que reservará a primeira vez de um grande ídolo enfrentando o clube adotado pelo seu coração.