A remissão é quase obrigatória. Contra o PSG, nas oitavas de final, o Barcelona levou uma coça muito semelhante à que tomou nesta terça-feira, da Juventus, igualmente fora de casa. Foi até pior, na verdade.
Aquele 4 a 0 parecia decreto, mas os deuses do futebol o revogaram no Camp Nou, à bordo de um 6 a 1 lendário, com atuação memorável de Neymar. Só tem um probleminha: a Juventus não é o PSG.
O sobrenatural de almeida terá de vir com tudo para fazer uma equipe sólida e tradicional, ainda por cima de uma escola reconhecida por se defender como nenhuma outra, tornar-se uma geléia morna ao ponto de apanhar sem reação, e de goleada, depois do que se viu na vitória por 3 a 0 com atuação italiana taticamente perfeita.
A Vecchia Signora, que ruma firme para o hexa no Itália, matou todos os pontos fortes do Barcelona. O técnico Massimiliano Allegri se aproveitou da ausência de Busquets e decidiu que era preciso marcar como nunca a saída de bola catalã.
A Juventus oscilou entre marcação alta e média, ora lá em cima, quase pressionando Ter Stegen, ora na linha divisória, dando algum espaço para os zagueiros Umtiti, Piqué e Mathieu (este no lugar de Jordi Alba) trocarem passes. Mas quando a bola se aproximava do campo da Juventus a conversa mudava de figura. Mascherano, como volante, limitou-se a passes laterais, exatamente o oposto de Busquets.
Foi assim o jogo todo: ao alternar a altura de suas linhas defensivas, compactadas e volúpia para desarmar, e não apenas cercar, Allegri transformou o Barcelona em presa fácil. A Juventus teve só 32% de posse, mas controlou sempre o jogo. E, quando recuperava a bola, trocava passes com enorme rapidez e qualidade. No primeiro tempo, então, foram quatro finalizações contra uma. Nada de retranca, portanto. Dybala, com certeza, deve feito a grande atuação da carreira. Seus dois gols antes do intervalo (dos três chutes desferidos por ele) são de rara beleza. Em ambos parece ter desenhado o movimento dos zagueiros e do goleiro dois segundo antes.
Khedira e Cuadrado foram monstros de marcação no meio-campo. Daniel Alves amordaçou Neymar como se já soubesse antes cada decisão a ser tomada pelo amigo e irmão camarada. Chiellini e Bonucci impediram Suárez de jogar, o que sempre julguei impossível.
Em nenhum momento o Barcelona, mesmo com Iniesta e Messi, conseguiu o passe vertical para furar as duas da Juventus. Sem laterais de ofício, desenhado no 3-4-3, dessa vez Luis Enrique perdeu o duelo tático. Mathieu e Sergi Roberto, na linha de quatro, pelos lados, não ultrapassaram. O que deixou sempre um a menos nas triangulações pelo flanco.
O terceiro gol, de Chiellini, veio de cabeça, para coroar um time firme, disposto a se impor também na força, contra outro (desta vez) acadêmico demais e sem inspiração. Eu apostaria meu time de botão feito só com vidros de relógio de pulso que o raio não cairá duas vezes no Camp Nou. Mas aposto com certo medo de errar, confesso. Se já não se pode duvidar de um time que tem um craque feito Messi pronto para se comunicar com Deus, que dirá com três desta estirpe, como é caso do Barça e seu trio MSN.