Um dia, minha mãe chegou e anunciou:
— Tenho um presente pra ti!
E tirou da bolsa um objeto pequeno e prateado, que ela segurava entre o indicador e o polegar. Eu estava sentado no tapete da sala, brincando com o Forte Apache. Levantei-me para ver o que era.
— É um apontador de lápis alemão! — explicou ela. — O melhor apontador de lápis do mundo! Não tem nada igual! Nada!
Tomei o apontador nas mãos. Era pesado e sólido. Parecia resistente, como todas as coisas feitas pelos alemães. Agradeci à mãe e, em seguida, corri para a minha pasta, de onde tirei um lápis a fim de experimentar o apontador. O lápis se encaixou nele à perfeição, como se tivessem sido fabricados ao mesmo tempo. Ao girá-lo, a lâmina começou a descascar fácil e suavemente a madeira, extraindo uma única tira finíssima sem nenhuma dificuldade. Olhei para o lápis apontado: liso, pontiagudo, sem lascas.
— Que apontador! — disse para mim mesmo. — O melhor apontador do mundo!
Fiquei orgulhoso do meu apontador, mas pensei: nem sou um aluno tão bom assim para possuir essa máquina.
Na manhã seguinte, na aula, acomodei-me à minha carteira e coloquei o apontador sobre a mesa, ao lado do lápis e do caderno. Olhava para ele de vez em quando e pensava: “Nem mereço...”
A aula foi em frente e, por volta de, sei lá, umas nove horas, senti um toque no ombro. Virei-me para o lado. Era Maria Cristina. Ela sorria com seus dentes muito brancos, que contrastavam com sua morenice e com seus olhos e cabelos negros, e aquela visão fez a sala de aula se iluminar. Ela falou, com sua voz de sorvete de creme:
— Me empresta teu apontador?
Fiquei feliz com o pedido. O apontador de lápis alemão estava me trazendo sorte. Porque eu amava Maria Cristina. Sério. Ela foi minha colega do jardim de infância à sétima série e, durante todos esses anos, eu dizia que era minha namorada. Não lembro se ela sabia desse relacionamento, mas acho que sim. Havia certo sentimento dela em relação a mim, por Deus que havia. Aí, na oitava série, Maria Cristina se mudou de bairro e de colégio. Fiquei desolado. Descobri que ela morava num edifício amarelo na Assis Brasil, perto do Cristo Redentor e, às tardes, caminhava até lá e parava do outro lado da rua, esperando que ela aparecesse. Ela nunca apareceu.
Mas isso aconteceria depois. Agora, Maria Cristina ainda era minha colega e eu ainda a amava e ela pedia meu apontador de lápis alemão emprestado. Emprestei com alegria e, com maior alegria ainda, observei como ela apontava com graças os seus lápis. Só que aí ocorreu algo. Ou, melhor, NÃO ocorreu algo: Maria Cristina não me devolveu o apontador de lápis alemão. E então começou meu drama. Que descreverei amanhã. Calma.