Às vezes, tudo que quero é um bom filme de ação ou um bom best-seller. Entro naquela história movimentada e me esqueço das demandas da vida. O que me importa se a mula é manca? Ou, como diria Ruy Barbosa, o tetravô de Marininha: “Pouco se me dá que claudique a onagra, o que me apraz é acicatá-la”. Quer dizer: não ligo mais para as redes, para os lulistas, para os bolsonaristas ou para a covid, o que interessa é como o herói vai sair da enrascada.
Outro dia peguei “1356”, do Bernard Cornwell. Que delícia. É a história de uma batalha que aconteceu mesmo, na Guerra dos Cem Anos. Claro que com alguns personagens fictícios misturados e uma trama trepidante, que deixa o leitor ansioso para chegar logo ao desfecho de cada capítulo. Li o romance em pouco tempo e, enquanto lia, me transportei para o mundo dos ferozes arqueiros ingleses da Idade Média.
Essa Guerra dos Cem Anos teve uma consequência importante: criou nos opositores, França e Inglaterra, um sentimento de nação que não existia antes. Até então, as pessoas se identificavam mais com o conde, o barão ou o príncipe ao qual deviam lealdade. Mais tarde, outras ocorrências, em geral também guerras, foram acentuando o nacionalismo. Que acabou gerando coisas feias, como o fascismo e o nazismo.
Fico pensando se o ideal não seria o mundo recuar até o tempo em que a ideia de pátria era difusa, quase inexistente. Porque, afinal, repare no que ocorreu na pandemia do Coronavírus: nenhuma fronteira deteve a doença. O vírus espalhou-se indistintamente por todos os países e provou que somos uma única raça. Para controlá-lo, fomos obrigados a colaborar uns com os outros. Os cientistas trabalharam juntos, pouco importando a nacionalidade de cada um.
A internet também unifica o planeta. Repare no caso daquele médico youtuber, Victor Sorrentino, que teceu, em português, um comentário malicioso para uma vendedora egípcia, achando que ela não o compreenderia. Ele mesmo postou o vídeo em suas redes sociais. Era para ficar apenas no âmbito dos brasileiros, mas qual o quê! O vídeo rodou o mundo até entrar de novo no Egito e cair nas mãos das autoridades do país, que o prenderam quando ele estava no aeroporto, a fim de voltar para o Brasil. Ou seja: o movimento de reação ao vídeo foi tão rápido que ele não teve tempo de retornar. Não existem fronteiras no mundo virtual.
Nós compartilhamos ideias, nós compartilhamos doenças, nós compartilhamos a cura, mas ainda vivemos apartados por fronteiras. Até quando? Duvido que seja por muito tempo. Logo, as barreiras cairão. Seremos um só povo. E estaremos livres para tomar a vacina nos Estados Unidos.