Criou-se, no Brasil inteiro e principalmente no Rio Grande do Sul, uma mitologia em torno do time do Grêmio. São crenças que não se sustentam na realidade, mas que até se justificam pelas vitórias que esse time obteve em 2016 e 2017. Alguém também pode alegar que a sequência de vitórias em Gre-Nal ajudou a consolidar essa miragem. Correto. Ajudou. Mas até nesse campeonato particular o Grêmio não foi tão bem quanto poderia – afinal, enfrentou o Inter em um dos piores momentos da sua história e, ainda assim, conseguiu perder alguns clássicos bisonhamente, como o de 2 a 0 no Gauchão de 2019.
A verdade não mostra um Grêmio vencedor, “copeiro” e poderoso, como se crê pelo país. A verdade mostra um time fracassado, que acumulou, em três anos, algumas das mais acachapantes derrotas da sua história mais que centenária. A começar pelo fim: o Gre-Nal de domingo passado. Um time vencedor, que está ganhando por 1 a 0 aos 44 minutos do segundo tempo, permite que o adversário vire o placar? Óbvio que não. Mas, bem, acidentes acontecem, não é? Acontecem.
Só que o Grêmio levou o gol de empate de um chuveirinho, bola erguida da intermediária por um zagueiro, tendo, dentro da área, três marcadores contra cinco adversários. Que time da várzea, estando em vantagem aos 44 do segundo tempo, deixa o inimigo ter essa supremacia dentro da sua própria área? O gol que o Grêmio tomou foi amador.
Antes disso, o Grêmio foi humilhado pelo Santos na semifinal da Libertadores, e amassado pelo Caxias, time da quarta divisão, na final do Gauchão. Nos anos anteriores, levou viradas inverossímeis de Atlético Paranaense e River Plate, e foi espancado pelo Flamengo. Esse é o currículo de um time vencedor? Alguém se lembra de um conjunto de três anos em que o Grêmio tenha apanhado tanto?
Administrativamente, a gestão é muito boa. O clube apresenta números tão azuis quanto a faixa principal da sua camiseta. Só que... de que adianta? Quando sai a contratar, a direção se atrapalha. Desperdiça dinheiro em jogadores medianos, que acabam ocupando os espaços de jovens promessas da base. O número de nulidades caras em que o Grêmio gastou monta uns dois times da Série B.
O Grêmio de hoje vive do marketing, não de resultados. Mas tem uma chance de manter sua boa imagem e varrer para o lixo do esquecimento todos os seus reveses: vencer a Copa do Brasil. É uma sorte rara: o time pode reabilitar três anos ruins com dois jogos bons. O único problema é que, do outro lado, existe um adversário que também quer vencer. A vida não é mesmo perfeita.