Estávamos em 2017, na primavera fria de Boston, quando recebi uma visita intrigante: um empresário gaúcho que eu não conhecia e que queria muito falar comigo. Era um homem enérgico, que se expressava com a confiança dos que enxergam o futuro. Seu nome: Leonardo Fração.
Nos reunimos no restaurante de um hotel perto da minha casa e tivemos uma conversa agradável. Leonardo apresentou-me um projeto para melhorar a segurança pública no Rio Grande do Sul. Achei a ideia maravilhosa, arrisquei-me a fazer alguns palpites e garanti que sua iniciativa teria todo o meu apoio. Esse projeto se transformou no Instituto Cultural Floresta, que tanta ajuda deu à segurança pública do Estado, e, felizmente, continuará dando.
O apoio ao Instituto Floresta é, de certa forma, o corolário de toda a minha atuação como jornalista nessa área específica. Porque a valorização da segurança pública sempre foi um dos meus temas preferidos. Tenho cá uma frase que volta e meia repito, de que, se resolvermos os problemas de segurança, resolveremos 70% dos problemas do Brasil. É no que acredito, não apenas por conhecer bem o meio, desde os meus tempos de repórter de polícia, mas também pelo que experimento como cidadão.
Sei que o cidadão não suporta mais ter medo de sair à rua, de levar o filho para brincar numa praça, de rodar com seu carro à noite. Também sinto esse medo. Sem segurança, o cidadão perde sua própria cidade. Viver em segurança é mais do que um alívio; é uma bênção.
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Nos últimos dias, o mundo desabou sobre minha cabeça, depois de um comentário que fiz no Timeline, da Gaúcha, a respeito dos assaltantes que atacaram Criciúma. Era um comentário irônico, provocativo, semelhante a tantos outros que fiz na minha trajetória. Mas muitas pessoas não entenderam assim, entenderam que falava a sério, ficaram furiosas comigo e com a minha companheira do Timeline, a Kelly Matos, que não teve responsabilidade nenhuma neste caso. A responsabilidade é toda minha, quem levantou o assunto fui eu, e a Kelly apenas fez algumas observações para ilustrar o que eu dizia.
Foi terrível que isso tenha acontecido, me senti muito mal. Ainda me sinto. Porque, se as pessoas não entenderam que estava fazendo uma ironia, a culpa não é delas. É minha.
Nunca louvei bandidos, nunca. E não poderia louvá-los justamente quando atacaram uma cidade que amo. Vivi um pedaço da minha vida em Criciúma, tenho lá amigos que são mais do que amigos; são irmãos. Fiquei horrorizado quando a cidade foi sitiada, e escrevi isso em GZH. Sofri quando vi os vídeos das pessoas aflitas, sofri quando meus amigos criciumenses me contaram o que passaram. E sofri ao saber que um PM foi baleado à covardia. Não relativizei a ação dos bandidos. Não os glorifiquei, como algumas pessoas pensaram. Mas elas pensaram. Então, errei. E por isso peço desculpas. Assumo o fardo desta responsabilidade e reforço que ela é só minha. Minha culpa, minha máxima culpa.