Há, no cinema, uma categoria de filmes tão ruins, mas tão ruins, que se tornam clássicos. O cinema se presta para isso, porque é uma experiência breve, de duas horas de duração. Um livro, por exemplo, não se torna “cult” por ser horrível, porque o leitor não vai adiante, larga já nas primeiras páginas. Ele não vai passar dias se aborrecendo.
O maior dos clássicos horrendos do cinema é Barbarella. O mestre Roger Vadim, homem que se consagrou por suas mulheres, é o diretor. Se você acha que exagero ao ressaltar as mulheres de Vadim, informo que duas delas foram Brigitte Bardot e Catherine Deneuve. A outra foi Jane Fonda, que era a protagonista de Barbarella.
Vadim explora a beleza perturbadora de Jane no filme. O filme é a beleza explosiva de Jane em sua juventude, e nada mais. É uma trama risível, típica dos anos 60, mas que acaba sendo uma boa diversão. Tornou-se tão singular, Barbarella, que o vilão da história, Durand Durand, virou nome de banda de rock na Inglaterra. E a mocinha virou nome de padaria em Porto Alegre.
Foi em Barbarella que pensei, no fim do jogo do Grêmio contra o Novo Hamburgo, nesta quarta-feira. O jogo foi ruim, disputado sem torcida, num campo precário, numa tarde de meio de semana. Um jogo para esquecer, não fosse um lance imortal.
O autor foi o centroavante Luciano. Ele já vinha jogando mal, mas, no fim do segundo tempo, se consagrou: Pepê ganhou dos zagueiros em velocidade, zuniu pelo lado esquerdo da área em direção à linha de fundo, mas, antes de chegar lá, girou o corpo e passou para trás. A bola veio mansa como um gato castrado, oferecendo-se para Luciano. Não havia mais goleiro, não havia mais zagueiro, era o atacante e o gol, o gol e o atacante. Luciano podia ter dominado a bola antes de chutar, podia ter avançado com ela, podia ter chutado forte, mas optou por bater colocado, de primeira. A bola saiu molenga, à meia altura, quicou no gramado crespo e saiu a uns três metros da trave.
Foi feio. O mais horripilante lance do futebol deste ano horripilante. E, por isso, um lance eterno. Será para sempre lembrado que esse foi, de fato, um lance digno dos tempos da peste.