O New York Times postou nesta quarta-feira, em seu site, um vídeo de sete minutos do “influencer” brasileiro Felipe Neto em que ele compara Bolsonaro a Trump, e afiança que Bolsonaro é muito pior. É claro que o Times, que odeia Trump, adora fazer esse tipo de publicação, mas, ainda assim, trata-se de uma façanha de Felipe Neto. Mais do que popularidade, ele ganhou prestígio.
Eis um fenômeno a se prestar atenção. Felipe Neto está se cristalizando como herói da esquerda brasileira, e em algum tempo não duvido que se transforme em um candidato viável a algum cargo maior. Presidência da República, quem sabe? Quem sabe? Em 2014, quando Dilma e Aécio disputavam o segundo turno, quem poderia dizer que Bolsonaro seria o presidente em 2018? E, antes disso, quem arriscaria que Dilma sucederia Lula? Experiência, currículo ou conhecimento, nada disso é condição sine qua non para ser presidente, no Brasil.
Felipe Neto é youtuber há 10 anos. Tem 38 milhões de seguidores, é o segundo youtuber mais visto do mundo. É claro que toda essa gente está envelhecendo com ele. Ou seja: logo, a linguagem adolescente de Felipe Neto não alcançaria os novos adolescentes que estão surgindo e deixaria de interessar os que não são mais adolescentes. Felipe Neto, assim, de forma inteligente, fez um movimento de Roberto Carlos: mudou na direção de seu público, tornou-se adulto.
Essa metamorfose se deu nas últimas eleições. Felipe Neto aderiu ao “Ele não” e viu-se coberto de até então inéditos elogios da esquerda. Percebeu que esse era o caminho e por ele enveredou. Usou uma plataforma mais afeita à opinião, o Twitter, para apresentar essa segunda persona. Transformou-se num atento vigilante do politicamente correto, uma espécie de juiz virtual do novo moralismo, além de acérrimo crítico de Bolsonaro. Funcionou. Semanas atrás, entrevistamos Jean Wyllys no Timeline e ele citou Felipe Neto como uma alternativa da esquerda. Mesmo que Jean Wyllys não tenha mais tanta relevância, ele representa uma ala deste setor da sociedade. Sua opinião é a mesma de muitas lideranças dos partidos chamados progressistas. Isto é: o nome de Felipe Neto já circula com naturalidade nesse meio.
Depois da repercussão de seu vídeo no New York Times, ainda nesta quarta-feira, Felipe Neto postou a seguinte mensagem no Twitter:
“Eu não só não tenho interesse em me candidatar em 2022, como eu nem terei a idade mínima necessária por lei”.
Quem conhece política, sabe o que uma declaração dessas significa: Felipe Neto não será candidato; ele já é.