As eleições estão chegando. Se você quiser ser candidato, tem de prestar atenção em certas regras de comportamento e opinião, a fim de ter bom sucesso. Consultei especialistas com o objetivo de formular um pequeno manual para ajudá-lo. Aí vão alguns dos ensinamentos que colhi.
Bem. Tudo depende do tipo de candidato que você pretende ser. Direita ou esquerda? Se for mais à esquerda, fique vigilante. Observe com atenção o que as outras pessoas fazem. Ao identificar qualquer atitude dúbia delas em relação a negros, gays ou mulheres, acuse-as de racismo, homofobia ou machismo. Isso é fácil de fazer, mesmo que a atitude da vítima não seja condenável em si, porque você pode usar a palavrinha mágica: “estrutural”. Esse é um termo muito útil, porque é vago. Tudo pode ser estrutural. Qualquer frase ou ação que diga respeito, por exemplo, a mulheres pode ser classificada como machismo estrutural.
Digamos que alguém comente: “As bailarinas do Faustão são maravilhosas”. Não perca a oportunidade. Escreva um post no tuíter dizendo que essa pessoa está “reificando” as mulheres, que ela acha natural que jovens seminuas sejam exibidas na TV como mercadorias. O mesmo pode ser feito com qualquer frase dita sobre gays ou negros. Ah, ou índios. Não se esqueça dos índios, “os verdadeiros donos da terra”, aquela coisa. O índio passa uma imagem de inocência, sempre pega bem defender o índio. Outros que devem estar na sua pauta são os pobres. Qualquer história edificante com pobres é comovente. Mas o melhor é falar do seu passado pobre, tipo: “Meu pai era analfabeto e nunca comeu camarão, mas era um homem honesto, que me ensinou que a honestidade não é uma qualidade, é um dever”. Que frase, hein! Que frase! Essa do camarão é ótima. Pode usar.
Agora, caso você pretenda ser um candidato de direita, fique mais atento ao noticiário. Se um bandido é preso por latrocínio, publique a foto dele na rede social e comente com ironia: “Mais uma vítima da sociedade”. Ou: “Matou um pai de família por causa da injustiça social”. Se o bandido foi, por acaso, morto em um tiroteio com a polícia, o comentário padrão é: “Chamem a Maria do Rosário para defender esse coitadinho”.
Aliás, eis um nome importante a explorar, para quem é da direita: Maria do Rosário. Sempre que houver alguma incoerência da Maria do Rosário para apontar, aponte com firmeza e sarcasmo. É barbada, porque todos somos incoerentes em algum momento, e a Maria do Rosário não é uma parlamentar, não é uma mulher: é um símbolo de defesa dos Direitos Humanos, e as pessoas de direita em geral não gostam dos Direitos Humanos, mesmo que as pessoas de direita em geral sejam humanas.
Há algo que une candidatos de direita e de esquerda: cachorros. Fale dos cachorros, publique fotos em que você abraça um e, se por acaso um pitbull estraçalhar o rosto de uma criança, como costuma acontecer, bote a culpa no dono, nunca no cachorro. É o dono que tratou mal o cachorro ou não o controlou e tal.
Mas o que é realmente decisivo, o que é realmente fundamental é você compreender que, sendo de direita, de esquerda ou de centro, você nunca, jamais, em tempo algum deve tentar fazer ponderações a respeito de qualquer assunto. Você deve ser preto ou branco, deve dizer sim ou não. Seja a favor ou contra, não ouse fazer considerações ou abordagens com nuances. Nada mais desgastante para o homem público do que raciocinar a propósito de um tema. Até porque é desnecessário, é uma perda de tempo: as teses já estão prontas. Escolha uma e defenda-a até a morte. Ou até mudar de partido. Aí você troca de opinião. Lembre-se que a política, meu caro candidato, é dinâmica.