O orçamento da Universidade de Harvard é espantoso: 30 bilhões de dólares por ano. Deste total, cerca de 55% vem de doações. A segunda fonte de arrecadação são os cursos de pós, especializações, MBA, essas coisas. Ou seja: há muitos tipos de cursos por lá. Deve haver algum de cobranças de pênalti. Seria importante o Grêmio matricular seus jogadores nesse MBA, mesmo pagando caro. Porque mais caro está saindo um time desse quilate não saber bater pênalti. O ano pode ser perdido por causa desse defeito.
Dá para fazer um intensivo, sim. Quem sabe tendo o Zico como professor, sei lá. Mas é claro que, como tudo na vida, pênalti é questão de treino e de vocação. O chute mais potente do futebol brasileiro, Roberto Rivellino, não cobrava pênalti. Dava lançamento de 60 metros no pé do ponta Búfalo Gil, cobrava faltas de revesgueio, possuía precisão de atirador de elite com aquela sua canhota, mas não chutava pênalti.
Na semifinal do Brasileiro de 1976, entre Fluminense e Corinthians, Rivellino se recusou a participar da cobrança de pênaltis que decidiria o adversário do Inter na decisão. O Fluminense acabou desclassificado. Bom para o Inter, porque o Fluminense era muito melhor do que o Corinthians. Ruim para o futebol, porque novo duelo entre o Inter de Valdomiro e a Supermáquina do Flu seria grandioso.
Bem, mas o que quero dizer é: se Rivellino, que foi Rivellino, ídolo de Maradona, Ronaldinho, Zidane, Platini e Beckenbauer, se este supercraque admitia que pênalti não era com ele, por que Luan não pode fazer o mesmo?
Luan não sabe bater pênalti. Ponto. Pensando bem: ponto e vírgula, porque ele pode aprender.
Vou contar uma história que conto às vezes sobre isso: numa cobertura da Seleção Brasileira, estava conversando com o Ronaldinho e ele me perguntou:
– Quem é que tu acha que bate melhor na bola entre nós, aqui?
Olhei em volta e vi Rivaldo, Roberto Carlos, Ronaldo Nazário e ele próprio, Ronaldinho, além de outros do jaez de Edmundo, por exemplo.
– Tu? – arrisquei.
– Não: ele – e apontou para o Valdir de Moraes, treinador de goleiros da Seleção, que já tinha lá os seus 70 anos de idade.
Aí prestei atenção na forma como Valdir batia na bola. E me espantei. O homem não errava um chute, um lançamento, um passe. Fui falar com ele e ele me contou que, quando era goleiro do Renner campeão gaúcho de 1954, passava horas treinando chutes com o então meia-esquerda do time, Ênio Andrade.
Aí me lembrei de outro caso que também vivo a repetir, do Ênio treinando o Grêmio nos anos 1980 e sendo desafiado pelo goleiro Leão:
– Velho, chuta um pênalti aí. Se você acertar, pago uma cerveja.
Ênio rebateu:
– Não. Vou bater 10 pênaltis. Se você pegar um, pago um engradado.
E bateu 10 pênaltis. E fez 10 gols.
Treino e talento, portanto.
Luan não tem talento pra pênalti. Teria de treinar muito. Ou desistir dessa tarefa, como fez Rivellino.
Mas o Grêmio foi eliminado também pela competência do Cruzeiro, sobretudo pela de Mano Menezes. É óbvio, para quem já trabalhou com futebol, que Mano mandou que seus jogadores caçassem Luan no começo da partida. Luan sofreu faltas duras, algumas até desleais. Apanhou todo o primeiro tempo. No segundo, zanzou nas cercanias do grande círculo, e seu futebol se tornou anódino. E não se escandalize com isso. A falta é um recurso do jogo. Mano usou-a bem e, assim, neutralizou o melhor jogador do adversário.
Luan, portanto, foi o centro desta bela decisão entre Grêmio e Cruzeiro. Não que tenha sido responsável pela eliminação. Mas porque poderia ter sido o responsável pela classificação. Que ele e o Grêmio aprendam. Todos, um dia, caem, mas só os verdadeiros heróis se levantam.