Você sabe como surgiu o PSOL, esse partido da ponta-esquerda aberta?
Surgiu da reforma da Previdência.
Logo depois de assumir o governo, em 2003, Lula constatou que havia um rombo nas contas da Previdência e propôs uma reforma. Alguns parlamentares do PT foram contra, e acabaram expulsos do partido. Foram esses parlamentares que organizaram o PSOL.
De lá para cá, o PSOL continuou contra reformar a Previdência. O governo do PT, não. O governo do PT continuou a favor, até porque as modificações feitas em 2003 não resolveram o problema. Lembro que, no começo deste ano, Dilma, ainda presidente, declarou:
– É um absurdo que a idade média do aposentado, no país, seja de 55 anos.
Dilma queria que a idade mínima de aposentadoria, para os homens, fosse de... 65 anos. Se você acha que já ouviu essa ideia em outro lugar, está certo.
Para defender as alterações no sistema, Dilma alegava que o déficit da Previdência era de R$ 91 bilhões. Hoje há quem diga que o déficit nem existir existe. Hoje, líderes petistas que pediram a expulsão de quem era contra a reforma da Previdência são contra a reforma da Previdência.
O que aconteceu, nessa faixa de tempo, para provocar tamanha mudança de posicionamento?
Nada.
Continua tudo igual.
As opiniões políticas, no Brasil, dançam conforme a música circunstancial. Se me favorece dizer que sou a favor, digo que sou a favor; se me favorece dizer que sou contra, digo que sou contra. O objeto da discussão, em si, não tem a menor relevância; tem relevância quem propõe. Sempre há argumentos plausíveis para ser de um lado ou de outro, sempre há pobres sofrendo, clamando por proteção, prontos para acreditar em soluções fáceis. Mas ninguém quer realmente encontrar a solução. Todos querem lucrar com a aparente busca de solução.
Jucá, Calheiros, Padilha, Geddel, todos eles fizeram parte dos governos do PT. Temer, aliás, também. E muito.
Henrique Meirelles era um dos economistas mais admirados por Lula, que inclusive o indicou a Dilma.
Se Lula fosse o presidente, Meirelles provavelmente seria o ministro da Fazenda e o PMDB estaria apoiando o governo, como sempre. Jucá, Calheiros, Padilha, Geddel e Temer fariam parte da base aliada. Então, todos juntos, proporiam as mesmas reformas que hoje o governo propõe. E todos os que são contra as reformas seriam a favor, e todos os que são a favor seriam contra.
Não existe ideologia ou convicções na política brasileira. Existem conveniências.
Esqueça o que eles alegam. Pense nas questões em debate:
Os gastos do governo devem ser contidos e controlados? É claro que sim.
A Previdência tem de ser reformada? É lógico que tem.
As reformas devem ser exatamente as propostas pelo governo? Não. Evidente que não.
Mas, para que os problemas sejam solucionados, a discussão teria de ser, no mínimo, adulta. Acreditar que haja políticos malvados que tomaram o poder para explorar o povo é pensamento de colegial.
O que conta, para os políticos brasileiros, é o poder. Eles não estão no poder para ajudar ou prejudicar alguém. Eles ajudam ou prejudicam alguém para deter o poder.
O governante já chegou ao poder. Estando lá, é lá que ele quer ficar. Para isso, tem de fazer a economia funcionar, que é o que tentou Dilma e tenta Temer. Já a oposição, ela não quer que o governante continue no poder. Então, tentará sabotar os projetos do governo. É assim que é. O Brasil? O Brasil pode esperar. Agora não dá para pensar nisso, há um carguinho ali para ser ocupado.
Essa é a lógica dos políticos. Não tem de ser a sua. A sua não pode ser aquela que responde à pergunta "O que é melhor para mim?". Se for essa, é a mesma dos políticos. A pergunta a ser respondida é: "O que é melhor para o Brasil?". Ao encontrar essa resposta, você descobrirá também o que é melhor para você.