A ignorância de Adolf Hitler sobre ciência e sua utilidade durante os primeiros anos do Terceiro Reich é lendária. Histórias são contadas há décadas por cientistas que testemunharam a ascensão dos nazistas ao poder, bem como pelos cientistas que foram treinados por esses, e assim por diante, até hoje.
Ouvi, em um jantar de cientistas na Alemanha, que Max Planck, físico ganhador do Nobel, tentou persuadir que eliminar os cientistas judeus seria perigoso pois esses eram responsáveis pela esmagadora maioria da produção científica alemã. Ao que Hitler teria respondido: “Ah, tudo bem, então ficamos sem ciência por alguns anos”.
Dizem que depois se arrependeu quando viu que a ciência podia ser útil para fazer armamentos e bombas – embora se irritasse quando tentassem lhe explicar o conceito da bomba atômica.
Alguns desses relatos estão no livro Os Cientistas de Hitler, de John Cornwell, que mostra que, ao ficar mais confortável no poder, Hitler cercou-se de alguns cientistas que não se importavam de trabalhar para o regime nazista, desde que fossem bem pagos. Wernher von Braun, que desenhou a bomba V2 para os alemães durante a guerra, mas depois foi trabalhar para o programa Apolo da Nasa, famosamente declarava que não se importava em trabalhar para o Tio Hans ou Tio Sam – tudo o que ele queria era um tio rico.
Mais adiante, Hitler, curiosamente, passou então a usar um verniz “científico” para justificar as mentiras sobre a eugenia e a superioridade ariana. Com certeza os que o faziam recebiam um salário bastante compensador. Vi um médico alemão chorar ao contar que seu pai fora uma dessas pessoas, da culpa que sentia por se deixar usar como exemplo da perfeita criança ariana.
Figuras obscuras alçaram posições de destaque no regime nazista, dando um verniz de legitimidade a termos e conceitos difíceis de se compreender – ao menos para o homem comum. Mas ciência tem um aspecto implacável e intrínseco de desmascarar a mentira, e isso é incompatível com qualquer regime autoritário.
O que aconteceu na Alemanha tinha mais a ver com a ideologia nazista ou com simples ganância? Na verdade, essas são as duas faces de uma mesma moeda.
Hoje, temos clareza de que o que aconteceu na Alemanha dos anos 1930 e 40 foi um grande esquema para enriquecer alguns. Mas, para quem estava vivendo o momento, a sensação era de atordoamento, de desinformação e confusão. E morte, muita morte, que contribui também para isso.
Quem sobreviveu, e seus filhos, que contem sempre, para que ninguém esqueça.
Quem sobreviver ao Brasil de hoje, que aprenda, e que não deixe que se repita.