Muitos anos atrás, quando comecei meu mestrado, no Departamento de Genética da UFRGS, minha avó, que mal completara o ensino médio quando menina, não entendia o que eu fazia. Por que eu não tinha emprego, de carteira assinada, como se esperava, depois da faculdade? Eu expliquei que aquele ERA o meu emprego. Que na minha profissão, após a faculdade, era preciso aprimoramento por mestrado, doutorado e pós-doutorado. De graça, perguntou? Expliquei que ganhávamos uma bolsa, não era muito, não tinha os benefícios de um emprego. Para receber essa remuneração não podíamos ter outro trabalho: era dedicação exclusiva. Mesmo assim, para mim, não existia outro caminho. Tive férias pela primeira vez na vida aos 35 anos, após dois pós-doutorados. Mas lembro da admiração nas vozes de minha avó e suas irmãs ao contar que eu fizera o inédito na família: doutorado, carreira no exterior, publicações internacionais. A essa altura já entendiam meu amor pela estranha profissão, que lidava com vacinas. Isso lhes bastava, e as orgulhava.
Crônica
Ciência é soberania
Impossível não perguntar: a quem realmente interessa a paralisação da ciência do país?
Cristina Bonorino