Ela nasceu no Brasil, lutou na categoria acima de 78kg nesta sexta-feira na Arena do Campo de Marte, em Paris, e venceu. E ela não é a Beatriz Souza.
A trajetória de vitória de Rochele Nunes nesta edição dos Jogos Olímpicos não tem a ver com a eliminação nas oitavas para a atleta da Bósnia-Herzegovina Larisa Ceric, mas sim com tudo que ela enfrentou no último ciclo de preparação para chegar até aqui.
Natural de Pelotas, Rochele se naturalizou portuguesa para facilitar o caminho atrás do sonho olímpico, que, no Rio Grande do Sul, onde treinava anteriormente, parecia mais distante.
Depois de representar Portugal nos Jogos de Tóquio, aos 35 anos, via em Paris a chance de conquistar a desejada medalha, objetivo de uma vida de esforço, mas não imaginava os obstáculos que precisaria enfrentar.
Em novembro de 2023, quando estava se recuperando de uma cirurgia no braço, Rochele perdeu o irmão de sete anos. Viajou da Europa para o Brasil ainda em recuperação. Vivia o luto recente, quando em maio a casa da mãe, em Canoas, foi inundada na enchente. Acontecimentos que ela relatou aos prantos aos jornalistas quando deixou o tatame em Paris.
— Depois do combate, acho que eu me permiti sofrer tanto a derrota quanto a minha vida. Eu não pude sofrer nem o luto nem as outras perdas porque eu tinha uma Olimpíada para competir — explicou, ao lado dos familiares que vieram até a capital francesa para apoiá-la.
A mãe, o pai e o irmão, que é ex-judoca, e o marido, que é treinador de judô, vieram torcer por ela nos Jogos.
— O nosso sentimento é de muito orgulho por tudo que ela conseguiu fazer estando aqui — disse o irmão.
Orgulho deles por Rochele. E de Rochele pela medalhista de ouro do Brasil:
— Eu queria ter feito uma final com ela, mas obviamente torci pela Bia, foi merecido, ela está de parabéns por representar tão bem o Brasil.
Parabéns, claro, para a Bia, mas também para a Rochele, porque a gente aprende que em uma competição só existe uma possibilidade de final feliz, mas histórias como essa nos mostram que são muitas.