Giordana Bido ainda estava terminando o Ensino Médio, em Novo Hamburgo, quando tomou uma decisão: iria fazer a faculdade no exterior. Optou pelo curso de comunicação e com uma busca rápida na Internet descobriu que uma das melhores escolas do mundo nessa especialidade era a North Western University, dos Estados Unidos. Filha de professora de inglês, já tinha fluência no idioma, mas precisava passar por uma série de testes para conseguir a aprovação.
Enquanto isso, prestou vestibular em Porto Alegre e foi aprovada, mas decidiu nem começar as aulas e investir tudo no sonho de concorrer uma vaga na instituição norte-americana. Depois de um ano de preparação, fez os testes e recebeu o resultado: reprovada. Porém, lá no fim do documento de recusa havia a uma pergunta: "aceitaria cursar a mesma universidade em uma sede em Doha, no Catar?". Giordana marcou que sim e um tempo depois recebeu um e-mail convidando-a para se aventurar pelas Arábias.
Sem ter a menor ideia sobre o que encontraria, aceitou o convite de ir estudar no Oriente Médio e em 2018 desembarcou em Doha.
— Eu cheguei sozinha e lembro que abriram as portas do aeroporto e aquele ar quente bateu no meu rosto. Eu olhei para o lado e vi uma mulher toda de preto, tapada da cabeça aos pés, um homem vestido com a thobe, foi um choque no começo — contou.
Passada a primeira impressão da diferença cultural, Giordana foi acolhida em um lugar de muito orgulho para as autoridades locais: a Education City, ou Cidade da Educação.
Idealizado pela sheikha Mooza, mãe do emir que governa o Catar e uma das principais vozes do Oriente Médio, o complexo, espalhado por 12 quilômetros quadrados, comporta oito universidades, sendo seis estadunidenses, uma catari e uma francesa. A maioria dos estudantes são asiáticos, mas o local tem chamado a atenção de jovens pelo mundo por conta do benefício de conseguir o diploma de uma grande instituição mundial tendo acesso a uma estrutura completa do ensino.
Dentro da Education City funciona, por exemplo, a Biblioteca Nacional do Catar, um prédio que tem a arquitetura inspirada em um diamante, e abriga verdadeira joias: um acervo com mais de um milhão de títulos entre versões virtuais e físicas. Também está no complexo o Centro Nacional de Convenções do Catar, que durante a Copa está sendo a sede de jornalistas do mundo no International Brodcasting Center, e é preparado para receber grandes eventos globais. E a Catar Foundation, que gerencia tudo, através da sheikha.
— Ela colocou uma Universidade do Afeganistão aqui dentro para que as mulheres afegãs não precisassem parar de estudar. Essa mulher é a principal referência para todos que vivem no Catar, inclusive para mim — vibra Giordana.
Na Education City existem escolas desde o Ensino Fundamental até a faculdade. Os estudantes recebem moradia em prédios distintos para homens e mulheres. Um trem movido a energia solar circula entre os edifícios da área arborizada, com direito a pontos de espera cobertos e com ar condicionado, para proteger do calor, para transportar quem circula por ali.
Hoje são 15 brasileiros estudando em diversos cursos. Giordana foi a primeira representante do nosso país a cursar Comunicação no Catar. Ja está empregada em Doha, trabalhando na própria universidade e não pretende voltar.
— O plano é ficar, eu gosto muito daqui. Sou muito feliz e eternamente grata pelo Catar ter financiado meus estudos e tudo que a família real e as pessoas daqui me proporcionaram — explica.
Para quem tem desejo de percorrer um caminho parecido, a dica dela é: planejamento. É preciso estar em contato com as universidades e atento aos prazos com muita antecedência.
A evolução pessoal da Giordana aconteceu junto com uma revolução na cidade de Doha. Em quatro anos, a gaúcha viu a cidade se transformar para receber a Copa do Mundo.
— Eu lembro que não conseguia circular porque a cidade era um grande canteiro de obras — relata.
Uma delas aparece no horizonte enquanto conversávamos, o estádio onde o Brasil joga contra a Croácia as quartas da Copa desta sexta-feira (9). Giordana tem ido a todos os jogos e está aproveitando a presença dos brasileiros na cidade. Está confiante no Hexa.
—Yala, Brasil! — incentiva, em árabe, a "cataúcha", que através do ensino fez de Doha seu lar.