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Após uma década de reduções de área, águas superficiais como rios, lagoas, zonas úmidas e mananciais se recuperaram em todos os biomas brasileiros com exceção do Pantanal e do Pampa. O bioma gaúcho atingiu seu pior índice em quase 40 anos, de acordo com um relatório publicado nesta quarta-feira (15) pelo MapBiomas, iniciativa formada por uma rede de organizações não governamentais (ONGs) e universidades que monitoram ecossistemas brasileiros via imagens de satélite.
O estudo mapeou as tendências de perda de recursos hídricos superficiais no país e comparou índices levantados nos anos de 2021 e 2022 com a média histórica de cada Estado, medida desde 1985. Segundo o MapBiomas, um total de 20 Estados brasileiros apresentaram recuperação de corpos d'água no ano passado, enquanto Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Rio Grande do Sul, Ceará, Paraíba e Distrito Federal tiveram quedas em sua cobertura hídrica.
No caso gaúcho, o Pampa teve a menor área de superfície de água de toda a sua série histórica em 2022, segundo o relatório. A queda foi de 3,86% em relação à média para o bioma, uma redução de 30,5 mil hectares de cobertura hídrica desde 1985. A tendência de queda no RS afeta “principalmente ambientes naturais, como áreas úmidas no entorno do Jacuí, região litorânea e proximidades à Lagoa dos Patos”, diz o relatório.
Por outro lado, há ganho de área de águas “principalmente em ambientes antrópicos (com ação humana), em regiões com grande quantidade de corpos hídricos artificiais”, sobretudo no oeste gaúcho. Apesar de cobrir só 2,3% do território nacional, o bioma gaúcho possui a segunda maior área de reservatórios naturais do Brasil. Isso porque o Estado abriga as duas maiores lagoas do país, a dos Patos e a Mirim, que estão entre as mais impactadas pelas reduções superficiais de corpos d’água.
Atualmente, o RS já vive três anos de estiagem. A falta de chuva tem piorado as condições de corpos d’água no Estado, como no litoral gaúcho, a exemplo da Lagoa do Peixe, que secou pelo segundo ano consecutivo. Piscicultores gaúchos, por exemplo, não conseguem criar peixes porque seus reservatórios e açudes estão sem água.
País melhora após década seca
Em 2022, houve uma recuperação de 10% dos índices de cobertura hídrica em comparação ao ano anterior, o que totalizou 18,2 milhões de hectares de cobertura hídrica no país, segundo o estudo. Em 2021, eram 16,5 milhões de hectares. O relatório destaca que a última década (2013-2021) foi a mais seca da série histórica nacional para as coberturas hídricas brasileiras, após um cenário de quedas acentuadas a partir do fim dos anos 90.
A pior queda constatada foi no Mato Grosso do Sul, que perdeu 813 mil hectares de cobertura hídrica entre 1985 e o ano passado. Só Corumbá, município sul-matogrossense que agrega 60% da área do Pantanal, acumula 600 mil hectares a menos de corpos d’água no período. “As áreas com maiores perdas são as de alagamentos sazonais do bioma, que ficam poucos meses do ano com água e estão a cada ano alagando menos”, diz o estudo sobre o bioma.
Enquanto Pantanal e Pampa sofreram perdas, Amazônia, Mata Atlântica e Cerrado apresentaram melhora na cobertura hídrica, diz o MapBiomas. Já a Caatinga se manteve próxima à média. O Brasil possui cerca de 6% da superfície e 12% do volume de água doce do planeta, o maior índice do mundo, ressalta o relatório.