O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, criticou nesta terça-feira (6) as multinacionais por transformarem os ecossistemas mundiais em "brinquedos para obter lucro". Em discurso antes da Conferência da ONU sobre a Biodiversidade (COP15) em Montreal, no Canadá, ele ainda alertou que, caso não haja uma mudança de rumo, os resultados serão catastróficos.
— Com nosso apetite sem fim por um crescimento econômico descontrolado e desigual, a humanidade se tornou uma arma de extinção em massa — afirmou Guterres em Montreal.
Desde que assumiu o cargo, em 2017, Guterres — que é ex-primeiro-ministro português —fez das mudanças climáticas um cavalo de batalha. As denúncias na abertura solene da COP15 mostram que ele também está preocupado com o destino das plantas e dos animais ameaçados de extinção, entendendo que se trata da mesma crise.
Guterres discursou após o premier do Canadá, Justin Trudeau, cuja fala foi interrompida por alguns minutos por representantes de um povo indígena, que exibiram uma faixa com os dizeres "Genocídio indígena = ecocídio".
Os desafios da COP15 são enormes: um milhão de espécies estão ameaçadas de extinção, um terço das terras do mundo estão gravemente degradadas e os solos férteis estão desaparecendo, enquanto a poluição e as mudanças climáticas aceleram a degradação dos oceanos.
Mais de 190 países se reúnem de 7 a 19 de dezembro para tentar selar um pacto de 10 anos pela natureza que evite a sexta extinção em massa. Mas o resultado das negociações, que envolvem cerca de 20 metas para proteger os ecossistemas até 2030, é incerto.
— Não estamos hoje em harmonia com a natureza. Pelo contrário, estamos tocando uma melodia muito diferente— resumiu o secretário-geral da ONU, que classificou que estamos em uma "cacofonia do caos". — No fim das contas, estamos nos suicidando por poder — acrescentou.
O prejuízo econômico causado pela destruição dos ecossistemas é estimado em três trilhões de dólares anuais a partir de 2030. No entanto, embora as evidências científicas sejam pouco discutidas, muitos pontos de atrito permanecem entre os membros da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB) da ONU (195 Estados e a União Europeia, sem os Estados Unidos, um observador influente).
Entre os 20 objetivos em debate, a ambição principal, batizada de 30x30, visa colocar pelo menos 30% das terras e dos mares do planeta sob uma proteção jurídica mínima até 2030, o que contrasta com os 17% e 10%, respectivamente, do acordo de 2010. Além do primeiro-ministro canadense, nenhum chefe de Estado ou governo é esperado em Montreal.