
Mais um episódio sobre a construção de uma nova ponte entre Imbé e Tramandaí, no litoral norte do Estado, ocorrerá nesta quarta-feira (10), durante uma audiência pública. O encontro deveria ter sido feito em julho, mas foi adiado devido à superlotação na Câmara de Vereadores de Tramandaí. Por isso, nesta quarta, às 18h, a audiência será no CTG Querência, em Imbé, que poderá receber até 350 pessoas.
A expectativa do governo estadual era que a obra começasse ainda neste ano, o que não ocorrerá, conforme informou GZH em julho. A audiência pública foi proposta pela Comissão de Economia, Desenvolvimento Sustentável e do Turismo da Assembleia Legislativa (AL) e será presidida pelo deputado estadual Zé Nunes (PT).
— Os pescadores e entidades nos procuraram e disseram que queriam discutir o assunto e não tinham espaço porque não houve diálogo, nenhuma conversa sobre a localização da ponte. Vamos ouvir as partes e as preocupações sobre o projeto — diz o parlamentar.
Até o momento, um estudo de viabilidade técnica identificou dois locais onde a travessia poderá ser construída. O primeiro tem traçado de 1,6 quilômetro e previsão de investimento de cerca de R$ 140 milhões, e passa por dentro da lagoa do Armazém. A outra teria 180 metros, custaria R$ 40 milhões e seria localizada em um ponto conhecido como Ponte das Sardinhas, onde há presença constante de botos. Essa última, uma estrutura binária, com duas pontes ligando as cidades, é a que se enquadra no valor disponível para o projeto.
De acordo com o prefeito de Imbé, Luis Henrique Vedovato (MDB), o investimento necessário para a obra está estimado em cerca de R$ 50 milhões, com R$ 40 milhões aportados pelo governo estadual. Além disso, segundo Vedovato, há ainda uma garantia de indicação de emenda parlamentar da bancada gaúcha na Câmara dos Deputados de R$ 7,5 milhões para as obras do entorno das pontes nos dois municípios.
Até o momento, foram utilizados R$ 2,7 milhões de verbas do Ministério do Desenvolvimento Regional para contratar uma empresa para a elaboração do projeto do empreendimento. O prefeito de Imbé diz que a construção de uma nova estrutura é necessária porque a ligação atual, a ponte Giuseppe Garibaldi, apresenta "um conjunto de problemas": baixa capacidade de carga de veículos (o que encarece o frete na região), estrutura deteriorada e engarrafamentos em momentos de maior fluxo, como no verão e fins de semana:
— É um problema regional à medida que o Estado se volta, principalmente no verão, para o Litoral, que há tempos clama por uma solução para isso — diz.
Ele explica que os municípios ainda não fizeram uma consulta pública com a população sobre o empreendimento por uma questão de logística do processo. Isso deve ser feito, conforme o prefeito, quando os estudos tiverem sido finalizados. Por isso, Vedovato assegura que todas as possíveis consequências da obra no local serão analisadas e informadas à população e que o processo seguirá as etapas previstas em lei.
— Não adianta debater com a sociedade uma solução que não é viável, porque precisamos saber se ambientalmente podemos construir as pontes no local onde foi indicado (no estudo inicial que está em andamento). Não adiantaria despender energia para discutir uma ponte que depois pode não será liberada (para construção) — afirma.
Preocupação
Uma das preocupações com o futuro empreendimento é que ele possa prejudicar a pesca cooperativa feita entre pescadores e botos na Barra do Rio Tramandaí, localizada entre os dois municípios. De forma resumida, nesse tipo de interação, os botos encurralam cardumes de tainhas e "avisam" o pescador, que, então, retira o peixe. Por fim, o que sobra é do boto.
De acordo com Ignacio Benites Moreno, professor do Centro de Estudos Costeiros, Limnológicos e Marinhos (Ceclimar) e do curso de Biologia Marinha da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a construção da estrutura impactará o habitat dos botos devido a efeitos do empreendimento, como o barulho, a vibração na água e movimentação de veículos e cargas pesadas na nova travessia.
— As evidências são fortes para o fato de que a ponte possa acabar com a pesca cooperativa e os botos no local. Queremos que se façam estudos. Temos que colocar na balança se é melhor perder a pesca cooperativa e deixar de enfrentar alguns engarrafamentos (de veículos) ou é se é melhor reformar a ponte antiga e manter a pesca cooperativa — diz.
Para o professor, as justificativas para a construção da nova via, com fim de melhorar o trânsito, são baseadas em episódios pontuais, em momentos em que o fluxo de veículos aumenta entre as duas cidades, o que não ocorre todo o ano. Desse modo, segundo ele, não se justifica um investimento que coloca em risco animais do local e prejudica comunidades da região para "resolver" esse problema esporádico.
— A pesca cooperativa é um patrimônio do Estado e muitas famílias dependem dela. Além disso, é algo que tem potencial um turístico gigante e, mesmo assim, vamos construir uma ponte desnecessária, sem antes fazer estudos. É lamentável se acontecer — pontua.