O óleo que atinge as praias do Nordeste desde agosto deste ano tem mudado a rotina de alguns dos moradores locais, que se mobilizam para fazer a retirada da substância. Uma boa ilustração do momento é uma foto que tem percorrido o mundo desde a semana passada. O fotógrafo Leo Malafaia, responsável por capturar o momento, falou sobre a experiência no programa Timeline, da Rádio Gaúcha, desta segunda-feira (28).
Ouça a entrevista:
O registro, feito na Praia de Itapuama, em Pernambuco, mostra um menino saindo do mar, coberto por um saco de lixo, utilizado como uma espécie de colete protetor, e os braços tomados pela graxa escura que atinge o litoral nordestino. No rosto, traz uma expressão de sofrimento.
Malafaia conta que, desde o momento em que viu a cena, percebeu que precisava fazer uma fotografia, já que ilustrava o que considera descaso das autoridades em relação ao que vem ocorrendo.
— É uma criança atuando onde o Estado deveria atuar. A situação, por si só, já é muito absurda. Já mostrava muito que a fotografia ia ter de força. Aí, quando vi, fiz a foto — explicou aos apresentadores Kelly Matos e David Coimbra.
A foto, clicada no dia 21 de outubro, começou a ter muitos compartilhamentos já nas redes sociais do fotógrafo e ganhou repercussão mundial na quarta-feira (23), após ele vendê-la para uma agência de imagens internacional.
— Foi quando comecei a receber feedback de outros países, de pessoas perguntando como podiam ajudar — disse.
O personagem da foto
Em entrevista ao portal G1, o menino da foto, Everton Miguel dos Anjos, 13 anos, disse que decidiu ajudar a retirar o óleo porque pensou no trabalho da mãe, Ivaneide Maria de Oliveira, 36 anos, que é comerciante e tem um ponto de venda na praia.
— Quando eu vi o óleo, pensei em várias coisas. Na tristeza, no trabalho da minha mãe e em ajudar. Era muito óleo na Pedra do Xaréu (praia perto de Itapuama). Eu mexi com as luvas, mas tinha muito. Eu não entraria de novo, porque foi muito difícil para tirar. Tiramos com óleo de cozinha depois — relembra Everton.
Apesar da ajuda dada pelo filho, Ivaneide sentiu medo quando o viu com a substância grudada ao corpo.
— Eles (voluntários que atuam na limpeza) deram bota, luva, mas serve até certo ponto. A luva é curta e a areia entra na bota, então só adianta se na área em que você estiver for pouco óleo para limpar. Ele quis ajudar, eu deixei. Quando eu vi que estava coberto de óleo, reclamei com ele porque fiquei preocupada. Graças a Deus, ele não teve nada — disse a comerciante.