Aguardada com expectativa pela população e pelas autoridades, a concessão à iniciativa privada da exploração de serviços no Parque Nacional de Aparados da Serra e no Parque Nacional da Serra Geral, em Cambará do Sul, gera também apreensão entre empresários, comerciantes e prestadores de serviços ligados ao turismo. Os dois parques, além das florestas nacionais de Canela e de São Francisco de Paula, todos na Serra, passaram por estudos de viabilidade e devem ter seus editais lançados em data ainda a ser definida.
Possibilidades apontadas nesses levantamentos, como a exploração de novos acessos aos parques que abrigam os cânions Itaimbezinho e Fortaleza, dois dos pontos turísticos mais famosos do Rio Grande do Sul e do Brasil, preocupam quem depende dos até 250 mil visitantes ao ano para manter seus negócios lucrativos — essas duas entradas, hoje fechadas, interfeririam no fluxo de pessoas que circulam por dentro de Cambará, oferecendo rotas alternativas até as belezas naturais. Sem passar pelo centro da cidade, os turistas deixariam de gastar neste local, o que poderia representar uma impactante queda na arrecadação.
Esses acessos se dariam pela RS-020 — um deles junto ao posto de informação e controle do Rio Camisas e outro na Estrada do Crespo — atualmente são utilizados apenas por funcionários do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), braço do Ministério do Meio Ambiente responsável pela gestão dos parques. No caso de a empresa vencedora da licitação decidir destinar essas vias à entrada de público, poderia disponibilizar vagas de estacionamento e veículos para transporte interno dos visitantes a partir dali.
Aí é que reside o temor de membros da Associação de Empreendedores Turísticos de Cambará do Sul (Aeturcs) — ao optar por esses caminhos alternativos, o visitante não passaria pela cidade para, por exemplo, fazer uma refeição, pernoitar — os editais devem contemplar serviços de hospedagem —, tomar um café ou comprar um suvenir.
— Para a cidade, essas novas entradas não são interessantes. Não é uma situação agregadora, ela divide. Abre essa possibilidade de as pessoas não chegarem a Cambará, de deslocar o fluxo de visitantes para áreas marginais. Há preocupação com quais serviços existirão lá dentro porque a gente quer que o turista continue usando os serviços da cidade — comenta Andrews Mohr, proprietário de uma agência de turismo e duas pousadas e membro da Aeturcs.
Dona de um pub, Patrícia Lemos, como muitos, vibra com a possibilidade de melhorias na infraestrutura dos parques, mas teme pela sobrevivência dos empresários que talvez não tenham fôlego — ou sequer chance — para competir com o que vem pela frente.
— Temos medo de que a cidade fique à míngua, de que não se desenvolva mais com o turismo. A gente quer muito essa concessão (à iniciativa privada), mas queremos uma concorrência legal, que não deixe de fora os locais, que estão há muitos anos batalhando pelo turismo, na marra — afirma Patrícia.
Outro ponto que mantém o setor turístico em alerta é o que envolve as empresas que oferecem os chamados serviços de receptivo (transporte de ida e volta até os cânions). Os operadores locais, independentes, querem garantir que terão a permissão de continuar entrando nos parques, não importa quem vença o edital.
— Não queremos perder esses acessos — diz Mohr.
Durante a visita do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, a Cambará do Sul, na noite desta quinta-feira (11), a Aeturcs deverá se pronunciar em um discurso, segundo Mohr, com tom bastante incisivo. Além disso, os membros da associação prepararam um documento, em parceria com a prefeitura, que deve ser entregue nas mãos do titular da pasta.
— A concessão é algo muito benéfico, que todos nós queremos. Estamos trabalhando apenas para aparar essas pequenas arestas — resume Mohr.