Avó e neta faziam o habitual caminho a pé até a escola quando, a 350 metros do destino, no início da tarde de sexta-feira, foram atingidas por um caminhão de lixo desgovernado. Raissa Oliveira do Nascimento, 11 anos, não resistiu aos ferimentos e morreu sobre o canteiro central da Avenida Azenha, nos fundos do Shopping João Pessoa, em Porto Alegre.
Sueli Oliveira da Rosa, 75 anos, gravemente ferida, foi socorrida ao Hospital de Pronto-Socorro (HPS), onde permanecia internada na noite de sexta-feira. O motorista do caminhão, Claudiomiro Mayer de Souza, 36 anos, também se machucou, mas foi liberado ainda durante a tarde.
As circunstâncias do acidente ainda são incógnita para a Polícia Civil. De acordo com o delegado Gabriel Bicca, a investigação vai considerar possíveis falhas mecânica ou humana, como alta velocidade e mal súbito.
- O que vai nos ajudar a determinar as causas é o tacógrafo do caminhão, as imagens de câmeras de segurança e os depoimentos de testemunhas. Até agora, temos relatos desencontrados - afirmou Bicca.
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A perícia trabalhou por mais de uma hora no local do acidente. Uma mureta quebrada e as marcas de pneu sobre ela indicam que o acidente começou pelo menos 7 metros antes de o veículo atingir as duas pedestres.
Silvio Aparecido Delgado Junior, 22 anos, presenciou toda a cena. Sentado no cordão da calçada para onde as vítimas se dirigiam, o operador de telemarketing aproveitava o dia de folga na rua onde mora. Depois de tomar um café, mexia no celular quando ouviu um estouro.
- O barulho foi muito alto, parecido com o estouro de um pneu. Quando olhei para cima, vi um caminhão vindo em alta velocidade atingir o canteiro e voar, caindo de lado - conta Delgado, embora uma análise preliminar não apontou dano a nenhum dos pneus.
Sem ver que havia pedestres feridos, o jovem diz que correu para tentar salvar o motorista. Com a ajuda de outros dois homens, quebrou o para-brisa e retirou o caminhoneiro.
Somente depois de ver que estava com vida, Delgado notou a presença de avó e neta.
- Conheço elas de vista, passam sempre aqui na ida e na volta da escola. A menina está sempre contente, brincando. Estou em choque, foi horrível.
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A mesma lembrança tem Jussara Chaves Silva, vice-diretora da Escola Estadual Especial Renascença, onde Raissa estudava havia cerca de cinco anos.
- Uma menina sempre alegre, falante e brincalhona. Participava das aulas de teatrinho comigo e adorava participar - recorda Jussara.
Portadora de deficiência intelectual, Raissa, como as demais crianças, fazia atividades de inclusão com objetivo de frequentar o ensino tradicional.
A menina era órfã e não tinha irmãos. Raissa era criada pela avó Sueli, que também cuida de uma filha com deficiência, segundo a também vice-diretora Ana Cristina Gaspary.
- Ela (Sueli) dizia que a Raissa era "sua vida". Tinha muito carinho por ela, trazia e buscava na escola, participava de todas as atividades. Estamos todos abalados - diz Ana.
Por conta disso, a escola está em luto e não abrirá até segunda-feira, reabrindo na terça para os cerca de 260 alunos que atende na Rua Lima e Silva.
O caminhão de coleta automatizada pertence à empresa Conesul, de Santa Cruz do Sul, presta serviços de recolhimentos de lixo dos contêineres à prefeitura de Porto Alegre. O veículo retornava para o ponto de descarga dos resíduos quando ocorreu o acidente. Foram necessários cinco guinchos para removê-lo.
CONTRAPONTO
O que diz a Conesul Soluções Ambientais Ltda.
Em nota, a Conesul lamentou "com pesar o trágico acidente" e disse que está disponibilizando todo "o suporte humano e material possível" aos familiares das vítimas, e que está colaborando com as investigações. Os registros do GPS do caminhão já foram fornecidos à polícia.
Os advogados da empresa foram ao local do acidente e estão acompanhando o trabalho da perícia. Além disso, a Conesul diz que "está trabalhando para apurar" as possíveis causas, mas que é precipitado dar qualquer informação.
Veja como foi a cobertura do acidente em tempo real: