O pouso realizado pelo rover Perseverance em Marte, às 17h55min (horário de Brasília) de 18 de fevereiro, teve participação brasileira. O processo de compilação e transmissão dos dados da missão da Nasa Mars 2020, que enviou o veículo exploratório ao Planeta Vermelho, é liderado pelo brasileiro Wanderley Abreu Júnior. Ele é proprietário da empresa de tecnologia Storm Group, que desenvolveu o algoritmo de compressão que envia os dados captados em Marte à Terra — entre eles, a primeira imagem da chegada do veículo ao território marciano.
A parceria entre o grupo brasileiro e a Nasa foi firmada por meio de um programa que facilita a transferência entre tecnologias estrangeiras e a agência espacial americana. Em entrevista ao Gaúcha +, o empresário contou detalhes de sua participação na missão, que visa ampliar a compreensão sobre as características geográficas de Marte e investigar vestígios de vida no planeta.
— O objetivo principal dessa missão é pavimentar o caminho para uma eventual colonização de Marte por humanos. O primeiro objetivo é procurar se já houve vida no Planeta Vermelho — explica o empresário. — O segundo é produzir oxigênio a partir da atmosfera de Marte, que é, em sua maioria, de dióxido de carbono — completa.
Para isso, o Perseverance irá recolher e armazenar amostras do solo do planeta, que poderão ser enviadas à Terra no futuro. Entre as ambições da missão está, ainda, facilitar a comunicação interplanetária.
— O objetivo da minha área é atualizar e melhorar a comunicação de dados entre planetas, no espaço profundo, e a Terra. Tivemos vários avanços, temos vídeos e uma maior capacidade de transferência de dados do que nós tínhamos na última missão — acrescenta.
As primeiras imagens do planeta marciano, captadas por meio de uma tecnologia que reúne 23 câmeras e 48 sensores acoplados ao rover Perseverance e dois sistemas principais responsáveis por transmitir os dados, levaram alguns segundos para chegar à Terra — um avanço em relação às missões anteriores. A distância percorrida pelas informações se aproxima de 56 milhões de quilômetros.
— A primeira imagem da sonda árabe, a Esperança, demorou quatro dias para chegar. A nossa demorou alguns segundos. Tecnologia brasileira, hein — brincou Wanderley.
Envolvidos em diferentes etapas da Mars 2020, há pelo menos 10 brasileiros, com participação desde a construção do Perseverance até a formulação de tecnologias da informação. Já envolvido em projetos futuros encabeçados pela agência espacial norte-americana — entre eles a missão Artemis III, que pretende levar a primeira mulher à Lua em 2024 —, o proprietário do Storm Group lamenta o atraso no desenvolvimento do programa espacial brasileiro:
— É um orgulho pra nós, sim, mas um pouco triste, porque nós podíamos ter um programa. Com tantos engenheiros, com tanta qualificação que nós temos aqui, nós podíamos ter um programa e estar mandando o nosso rover para Marte, não trabalhando no programa espacial dos outros.