
Um mês após ser vítima de tentativa de feminicídio, Patrycia Dutra Mendonça, 34 anos, luta pela vida em uma unidade de tratamento intensivo (UTI) em Porto Alegre. Ela está em estado grave, com 25% do corpo queimado. O principal suspeito de atear fogo no corpo dela é o ex-companheiro — com quem não está há mais de um ano. O crime aconteceu em 7 de março, e o homem foi preso cinco dias depois.
Inconsciente e sedada na maior parte do tempo desde que foi hospitalizada, em razão da gravidade das queimaduras de segundo e terceiro grau, Patrycia se alimenta com auxílio de uma sonda e respira por aparelhos. Atualmente, ela passa por procedimentos de raspagem e enxerto de pele, o que causa perda de sangue (veja como ajudar abaixo). O tratamento, entretanto, está longe de ser finalizado.
— O risco de vida é constante, ela está em uma UTI, o quadro é grave. Vai ser um longo caminho de recuperação, um processo dolorido, de um a dois anos. Vai precisar de acompanhamento médico talvez para o resto da vida. Ela também vai precisar passar por mais de 20 cirurgias plásticas pelo que o doutor falou — explica a mãe da vítima, Mery Dutra, 52 anos.
Mãe e filha ainda não conseguiram conversar sobre o que ocorreu, porque Patrycia não consegue falar. Mesmo assim, quase diariamente, Mery visita a filha ao meio-dia para acompanhar as pequenas evoluções do quadro, como as boas respostas a novos medicamentos.
Dinâmica familiar mudou após crime
O tempo de visitação é limitado a uma hora diária para evitar possíveis infecções e contaminações por bactérias. Por isso, a família se reveza para poder ver a vítima e estancar um pouco da saudade e preocupação.
— Foi um baque. A família está unida, muito forte. Às vezes parece que o mundo vai cair, porque a gente chega em casa e a Patrycia não está — lamenta Mery.
Entre as visitas ao hospital e o trabalho como técnica de enfermagem em uma empresa da Capital, Mery não consegue parar muito em casa desde o crime contra sua filha. A família mora no bairro Parque Eldorado, em Eldorado do Sul, na Região Metropolitana. Dessa forma, a saudade e preocupação pelos outros integrantes da família também são presentes em meio ao processo de recuperação.
Uma das mazelas causadas pelo crime foi o choque causado em uma irmã de Patrycia. A jovem de 18 anos precisou iniciar um acompanhamento psicológico depois que a familiar quase foi assassinada.
Mesmo com os entraves do caminho, Mery relata que familiares e amigos estão "mobilizados em prol" da vítima.
— Eu daria tudo para ter a minha filha sã e salva. É o que eu quero: a minha filha do meu lado. Eu acredito que ela vai se recuperar. Um dia, quando isso passar, a gente vai sair de mãos dadas de dentro de lá (hospital onde a vítima está internada). Ela vai estar caminhando e bem, se Deus quiser — sonha a familiar da vítima.
Busca por justiça
No último dia 21, a 2ª Delegacia de Polícia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam) de Porto Alegre indiciou o ex-companheiro de Patrycia pelo crime de feminicídio tentado.
Depois de analisar o caso, o Ministério Público gaúcho (MP-RS) ofereceu, na sexta-feira (4), uma denúncia à Justiça sobre o caso. Ele foi denunciado por tentativa de feminicídio. No mesmo dia, a Justiça aceitou a denúncia e agora avalia o caso.
— A gente só vai ficar tranquilo quando ele (o agressor) for julgado e condenado. Isso a gente vai deixar para a Justiça. O que aconteceu com a minha filha não pode ficar impune — ressaltou a mãe da vítima.

O caso
O relacionamento de Patrycia Dutra Mendonça, 34 anos, já havia chegado ao fim há mais de um ano quando, segundo a Polícia Civil, ela sofreu uma tentativa de feminicídio por parte do ex-companheiro. O caso aconteceu em 7 de março, em uma residência da zona norte da Capital. O suspeito, de 30 anos, foi preso preventivamente no dia 12 do mesmo mês.
À polícia, o preso, que se relacionou por cerca de quatro anos com a vítima, negou que tenha acontecido crime, justificando que houve um acidente na cozinha da casa. Segundo ele, Patrycia estava manuseando álcool perto do fogão, o que causou fogo e queimaduras na ex-companheira.
De acordo com os relatos de testemunhas à polícia, a vítima e o suposto agressor estavam separados há um ano, depois de viverem uma relação marcada por brigas e ameaças. Patrycia, inclusive, já havia registrado uma ocorrência por agressão física contra o preso.
O homem possui antecedentes por lesão corporal e ameaça. Ele está recolhido no sistema prisional.
Doação de sangue
Patrycia Dutra Mendonça precisa de doação de sangue para continuar o tratamento.
Interessados podem colaborar doando qualquer tipo de sangue no Hospital Conceição, no bairro Cristo Redentor, em Porto Alegre (Avenida Francisco Trein, 596).
Onde pedir ajuda em casos de violência contra a mulher
Brigada Militar – 190
- Se a violência estiver acontecendo, a vítima ou qualquer outra pessoa deve ligar imediatamente para o 190. O atendimento é 24 horas em todo o Estado.
Polícia Civil
- Se a violência já aconteceu, a vítima deverá ir, preferencialmente à Delegacia da Mulher, onde houver, ou a qualquer Delegacia de Polícia para fazer o boletim de ocorrência e solicitar as medidas protetivas
- Em Porto Alegre, há duas Delegacias da Mulher. Uma fica na Rua Professor Freitas e Castro, junto ao Palácio da Polícia, no bairro Azenha. Os telefones são (51) 3288-2173 ou 3288-2327 ou 3288-2172 ou 197 (emergências)
- A outra fica entre as zonas Leste e Norte, na Rua Tenente Ary Tarrago, 685, no Morro Santana. A repartição conta com uma equipe de sete policiais e funciona de segunda a sexta, das 8h30min ao meio-dia e das 13h30min às 18h
- As ocorrências também podem ser registradas em outras delegacias. Há DPs especializadas no Estado. Confira a lista neste link
Delegacia Online
- É possível registrar o crime pela Delegacia Online, sem ter que ir até a delegacia, o que também facilita a solicitação de medidas protetivas de urgência.
Central de Atendimento à Mulher 24 Horas – Disque 180
- Recebe denúncias ou relatos de violência contra a mulher, reclamações sobre os serviços de rede, orienta sobre direitos e acerca dos locais onde a vítima pode receber atendimento. A denúncia será investigada e a vítima receberá atendimento necessário, inclusive medidas protetivas, se for o caso. A denúncia pode ser anônima. A Central funciona diariamente, 24 horas, e pode ser acionada de qualquer lugar do Brasil.
Ministério Público
- O Ministério Público do Rio Grande do Sul atende em qualquer uma de suas Promotorias de Justiça pelo Interior, com telefones que podem ser encontrados no site da instituição.
- Neste espaço é possível acessar o atendimento virtual, fazer denúncias e outros tantos procedimentos de atendimento à vítima. Acesse o site.
Defensoria Pública – Disque 0800-644-5556
- Para orientação quanto aos seus direitos e deveres, a vítima poderá procurar a Defensoria Pública, na sua cidade ou, se for o caso, consultar advogado(a).
Centros de Referência de Atendimento à Mulher
- Espaços de acolhimento/atendimento psicológico e social, orientação e encaminhamento jurídico à mulher em situação de violência.