
A Polícia Civil apreendeu, em Pelotas, na Região Sul, um adolescente de 17 anos suspeito de integrar um grupo de ódio na internet que incentivou o ataque com coquetéis molotov contra um sem-teto no Rio de Janeiro. A vítima teve 70% do corpo queimado, e o crime foi transmitido pela plataforma Discord para 220 pessoas.
O caso é investigado pela polícia carioca, que cumpriu mandados de apreensão na terça-feira (15), em diferentes Estados.
De acordo com a delegada Lisiane Mattarredona, responsável por cumprir a ordem judicial de apreensão, o adolescente está internado no Centro de Atendimento Socioeducativo (Case) de Pelotas.
— Ele teria alguma participação na tentativa de homicídio desse morador de rua. Ele negou envolvimento durante o depoimento. Apreendemos na casa dele, onde vive com os pais, celular e equipamentos de informática. As provas coletadas devem integrar o inquérito, que é conduzido pela Polícia Civil do Rio de Janeiro — relatou a delegada.
A apreensão do adolescente fez parte da Operação Adolescência Segura, que cumpriu ordens judiciais em sete Estados com o objetivo de desarticular uma das maiores organizações criminosas do país voltadas à prática de crimes cibernéticos contra crianças e adolescentes. No total, dois adultos foram presos e sete menores de idade foram apreendidos.
Segundo a Polícia Civil, a rede é responsável por diversos crimes graves no ambiente virtual. A investigação revelou que o grupo se organizava por meio de plataformas criptografadas, como Discord e Telegram, onde promovia desafios e competições baseadas em crimes de ódio. Entre os crimes cometidos estão:
- Tentativa de homicídio
- Induzimento e instigação ao suicídio
- Incentivo à automutilação
- Armazenamento e divulgação de pornografia infantil
- Maus-tratos a animais
- Apologia ao nazismo
Ataques a sem-teto
As investigações começaram em 18 de fevereiro de 2025, quando um homem em situação de rua foi atacado e teve 70% do corpo queimado por um outro adolescente que lançou dois coquetéis molotov contra ele.
Em paralelo, um maior de idade filmava e transmitia o ataque em tempo real para cerca de 220 integrantes do grupo na plataforma Discord. Ele foi preso, e o adolescente apreendido e internado provisoriamente pela polícia.
Não foi um fato isolado
A Polícia Civil descobriu que o ataque não foi um caso isolado.
“Os administradores do servidor usado no crime compunham uma verdadeira organização criminosa, altamente especializada em diversos crimes cibernéticos, tendo como principais alvos crianças e adolescentes. A atuação da quadrilha é tão significativa no cenário virtual que atraiu a atenção de agências independentes dos EUA — a HSI e o NCMEC — que emitiram relatórios sobre os fatos, contribuindo com o trabalho dos policiais civis envolvidos no caso”, informou a Polícia Civil do RJ.
A polícia também constatou que o grupo atuava em diversas plataformas digitais, utilizando mecanismos de manipulação psicológica e aliciamento de vítimas em idade escolar, “em um cenário de extremo risco à integridade física e mental de crianças e adolescentes”.
“Como estímulo, eram oferecidas recompensas internas para aqueles que se destacassem nas atividades criminosas”, informou o Ministério da Justiça e Segurança Pública.
Os alvos da investigação serão responsabilizados por diversos crimes, incluindo associação criminosa (art. 288 do Código Penal), indução ou instigação à automutilação (art. 122, §4º do Código Penal) e maus-tratos a animais (art. 32 da Lei 9.605/98). As penas podem ultrapassar 10 anos de reclusão.