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Uma estudante de Direito da Unidade Central de Educação Faem Faculdade (UCEFF), em Chapecó (SC), gastou cerca de R$ 72 mil arrecadados para a formatura da turma, marcada para 22 de fevereiro, no "Jogo do Tigrinho". A Polícia Civil investiga o caso em duas linhas criminais: apropriação indébita e estelionato.
Em nota, a UCEFF informou que não tem participação direta com a organização de cerimônias festivas de formaturas, exceto as cerimônias institucionais. Diz ainda que, no início de fevereiro, quando soube do fato pelos próprios alunos, prontamente ofereceu assessoramento jurídico e administrativo.
A estudante não teve o nome divulgado, o que impossibilitou o contato da reportagem com a sua defesa.
Nas redes sociais, os estudantes que ficaram sem o dinheiro dizem que a verba vinha sendo arrecadada ao longo de três anos. A aluna autora do desvio era presidente da comissão de formatura e ficou encarregada de administrar o recurso.
Acesso aos fundos
O dinheiro dos outros 15 formandos era colocado na conta da presidente da comissão de formatura. Cada um dos 15 formandos que depositaram dinheiro na conta da aluna perdeu quase R$ 5 mil.
Um mês antes da festa, os alunos foram informados pela empresa responsável pelo evento que o pagamento, no valor de R$ 76,9 mil, não tinha sido feito. A empresa havia recebido apenas um adiantamento de R$ 2 mil.
Aluna admitiu vício
Questionada, a estudante admitiu que perdeu todo o valor em apostas. "(Eu) me viciei em jogos online, tigrinho e afins, e quando perdi todo o dinheiro que eu tinha guardado, comecei a usar o da formatura para tentar recuperar e, aí, cada vez mais e mais fui me afundando no jogo e em dívidas", escreveu em grupo de mensagens da turma.
No texto, ela pede perdão aos colegas e diz que vai encontrar uma solução. A estudante afirma estar cientes dos erros que cometeu e que nem os seus amigos, nem a sua família sabiam da situação. "Toda vez, acreditava que ia recuperar e dar um jeito na situação, mas cada vez ficava pior", relatou.
De acordo com a Policia Civil, a estudante é casada e mãe de uma filha pequena, mas tanto o marido quanto os demais familiares desconheciam que ela estava viciada no "Jogo do Tigrinho", embora ela tivesse apostado também as suas economias.
Festa adiada
A festa de formatura foi adiada e os alunos estão se mobilizando em campanhas pelas redes sociais para arrecadar o dinheiro que perderam. A polícia de Chapecó enviou pedido à Justiça para rastrear os valores e tentar recuperar algum montante.
Jogo do Tigrinho
O "Jogo do Tigrinho" é uma plataforma de cassino online conhecida que estimula as apostas prometendo ganhos fabulosos. O objetivo é levar o jogador a fazer um combinado de três figuras iguais nas três fileiras que aparecem na tela do celular/computador.
Caso semelhante em São Paulo
Em São Paulo, a Justiça condenou a cinco anos de prisão pelo crime de estelionato a estudante de Medicina Alicia Dudy Muller Veiga, da Universidade de São Paulo (USP), acusada de desviar R$ 927 mil da formatura dos colegas. A sentença, determinada em julho de 2024, estabeleceu que a pena poderia ser cumprida em regime semiaberto. Ela também foi condenada a ressarcir o prejuízo causado.
A defesa entrou com um recurso que ainda não teve julgamento final. Em dezembro do ano passado, como mostrou o Estadão, mesmo tendo sido condenada, a jovem terminou a faculdade e conseguiu o registro de médica no Conselho Federal de Medicina (CFM). A lei não impede pessoas condenadas de estudar, formar-se no Ensino Superior e trabalhar.
A defesa de Alicia negou, na época da condenação, que ela tenha cometido crime de estelionato. Após a veiculação de notícias sobre ela ter conseguido o registro do CFM, o advogado dela, Sergio Ricardo Stocco Giolo, disse em nota que ela tem "direito ao esquecimento".