Paulo Luiz dos Anjos, sogro da mulher suspeita de ter envenenado um bolo de Natal que matou três pessoas da mesma família, em Torres, no Litoral Norte, também ingeriu arsênico antes de morrer.
Zero Hora apurou que foi isso que exames do Instituto-Geral de Perícias (IGP) constataram depois de o corpo dele ter sido exumado, na quarta-feira (8).
Paulo morreu em setembro, depois de consumir bananas e leite em pó, alimentos levados à casa dele, em Arroio do Sal, pela nora Deise Moura dos Anjos, que está presa por suspeita de ter usado a mesma substância para envenenar o bolo de Natal. O resultado do trabalho será anunciado por autoridades em entrevista coletiva na manhã desta sexta-feira (10).
Também foi arsênico que matou as pessoas que comeram o bolo de reis, feito para a família pela mulher de Paulo e sogra de Deise, Zeli dos Anjos. Deise é suspeita de ter colocado o veneno na farinha que foi usada por Zeli para fazer o doce. ZH descobriu que vestígios do veneno foram encontrados por peritos nas vísceras de Paulo.
Deise e o marido visitaram Paulo e Zeli em 31 de agosto. Depois de consumir banana e leite em pó, o casal passou mal e foi hospitalizado. Paulo acabou morrendo, com crises de vômito, diarreia e sangramentos estomacais, interpretados na ocasião como sintomas de intoxicação alimentar.
Depois que duas irmãs de Zeli e uma sobrinha morreram ao ingerir o bolo de reis, a polícia passou a suspeitar das circunstâncias da morte de Paulo, que não havia levantado suspeitas e não foi investigada à época. A própria Zeli passou a ser suspeita. A polícia começou a desconfiar de Deise a partir de relatos de testemunhas informando que ela e os sogros tinham uma relação conturbada há 20 anos. ZH também teve acesso exclusivo a esses depoimentos.
A relação entre as três irmãs (Zeli, Maida Berenice Flores da Silva e Neuza Denize Silva dos Anjos) foi descrita como "maravilhosa" por todos os interrogados, ao contrário da relação de Zeli com a nora. Um dos depoentes definiu Deise como "manipuladora" e disse que ela afastou os pais do seu marido. Para Zeli, a nora teria dito, conforme uma testemunha, que ela ainda veria "toda a família em um caixão".
Durante a investigação, Deise negou em depoimento ter envenenado alimentos, mas contou detalhes da relação difícil, principalmente, com a sogra. Admitiu que se referia a Zeli como "naja". Também contou que ficou irritada pelo fato de a sogra ter preferido passar o Natal com as irmãs e não com o filho e o neto.
Alta concentração de arsênico na farinha
O IGP comprovou que a farinha usada no bolo continha arsênico e uma das vítimas apresentava concentração deste veneno em quantidade 350 vezes maior que o suficiente para matar alguém. O bolo foi preparado em 23 de dezembro e quem o ingeriu manifestou crises de vômito, diarreia e sangramentos minutos após. Morreram em menos de 24 horas as irmãs Maida Berenice Flores da Silva, 59 anos, Neuza Denize Silva dos Anjos, 65 anos, e uma filha de Neuza, Tatiana, 47 anos. Ficaram intoxicadas a mulher que preparou o doce, Zeli dos Anjos (ainda hospitalizada) e um neto de Neuza, com 10 anos de idade, que já teve alta.
Pesquisas na internet
Questionada em depoimento à polícia se comprou veneno para colocar em alimentos, Deise negou, mas relatou que Zeli teria adquirido "matamato" (herbicida) e veneno para matar rato para usar na casa.
Policiais questionaram se ela fez pesquisas na internet a respeito de "venenos fatais para humanos", ela confirmou, tendo aparecido na tela "chumbinho" e veneno de rato. Ela disse que fez isso após a morte do sogro, porque a sogra desconfiava que ele pudesse ter morrido envenenado e não por infecção bacteriana.
Isso foi em setembro. Ela disse que já em 24 de dezembro realizou nova pesquisa, ao saber do envenenamento que vitimou a sogra e as irmãs dela. Alegou que pesquisou também sobre arsênico, ao tomar conhecimento dos sintomas das mortes. Ela ainda acrescentou que "não há bens a serem herdados" e que não teria motivo para envenenar ninguém.