Os peritos do Instituto-Geral de Perícias (IGP) foram os responsáveis por apontar que foi o arsênio a causa da morte das três pessoas da mesma família em Torres. Em entrevista à RBS TV na terça-feira (7), os profissionais detalharam como a análise dos materiais foi realizada.
De acordo com a perita criminal Clarissa Cassini Betton, após a afirmação de que o bolo teria sido a causa do envenenamento, uma pré-triagem foi feita e todos os materiais que poderiam fazer parte do bolo foram coletados.
As buscas foram feitas na casa de Zeli Teresinha dos Anjos, responsável por fazer o bolo, em Arroio do Sal, e da nora dela, Deise dos Anjos, em Nova Santa Rita.
Depois disso, os materiais foram apreendidos e levados ao Laboratório de Química Forense e Química Legal do IGP, em Porto Alegre.
Foram analidadas 89 amostras. Na farinha, foi constatada a presença de arsênio. A detecção do veneno na farinha foi possível graças a um equipamento de fluorescência de raio X.
A perita criminal Renata Cardoso Vieira explica que o equipamento tem banco de dados de metais e aponta qual está presente na amostra.
— A gente prepara a amostra e compacta o material. Quando o equipamento é ligado, ele emite uma fluorescência de raio X que faz a leitura dos metais que estão presentes na amostra — explica.
Outras análises
Os peritos analisaram também amostras de sangue, conteúdo estomacal e urina das vítimas. A perita Viviane Fassina explica que uma técnica específica foi utilizada para a identificação do arsênio.
— O material foi amostrado e encaminhado para um laboratório parceiro, que fez a análise do metal por ICMS, uma técnica específica visando a pesquisa de arsênico — detalha.
No estômago de uma das vítimas, Tatiana Denise Silva dos Anjos, foram encontradas 384 mil microgramas de arsênico por litro, a maior entre os que comeram o bolo.
A diretora do IGP, Marguet Inês Hoffmann Mittmann, afirmou que existem provas robustas e inquestionáveis sobre a morte por envenenamento de arsênio.
— É inquestionável que as vítimas morreram por envenenamento por arsênio, é inquestionável que o arsênio estava no bolo e é inquestionável que a fonte na receita do bolo é a farinha.
O caso
Seis pessoas da mesma família passaram mal e precisaram procurar atendimento médico no último dia 23, após consumir um bolo, que continha arsênio, conforme análise da perícia do Instituto-Geral de Perícias (IGP).
Três delas morreram: duas irmãs de Zeli, Neuza Denize Silva dos Anjos, 65 anos, e Maida Berenice Flores da Silva, 59, além de Tatiana Denize Silva dos Anjos, 47 anos, filha de Neuza.
Zeli, responsável por fazer o bolo, permanece hospitalizada, em estado estável, de acordo com o boletim médico. Um menino de 10 anos, neto de Neuza e filho de Tatiana, também ficou hospitalizado, mas já está em casa. Uma sexta vítima, um homem da família, foi liberado após atendimento médico.
Suspeita do crime é presa
No domingo (5), a nora de Zeli, Deise Moura dos Anjos foi presa suspeita de ter envenenado o bolo de Natal.
Em buscas no celular de Deise, a polícia encontrou diversas pesquisas feitas por ela sobre arsênio.
Questionada sobre, Deise disse que fez isso após a morte do sogro, porque a sogra desconfiava que ele pudesse ter morrido envenenado, e não por infecção bacteriana.
Os depoimentos colhidos pela Polícia Civil para esclarecer o envenenamento do bolo, mostram uma relação conturbada entre quem preparou o doce, Zeli, e Deise. As duas tinham uma briga que se estendia havia 20 anos.
O que é arsênio
Arsênio é um metal natural que está presente no solo e, inclusive, traços dele são encontrados em alimentos e cosméticos. Contudo, dependendo da concentração, pode ser letal. O elemento químico foi detectado em exames de sangue de integrantes da família que comeram bolo em Torres — três pessoas morreram.
O metal pode ser encontrado em diferentes composições químicas. Entre as mais populares no Brasil, está o arsênico, veneno para ratos e insetos que tem sua venda proibida no país desde 2005.
As principais formas de se obter produtos com alta concentração de arsênio no Brasil são por comercialização clandestina ou em possíveis sobras ainda existentes, que são de antes da proibição, aponta o toxicologista Bruno dos Santos:
— O arsênico era conhecido como o rei dos venenos, porque mimetiza muitas vezes uma doença gastrointestinal, uma intoxicação alimentar. Então, a pessoa tinha muita diarreia, vômito, e acabava parecendo que era uma disenteria, uma cólera.
Segundo o especialista, doutorando em análise toxicológica pela Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), esse resultado é obtido com pequenas doses do elemento químico.
O composto trióxido de arsênio, conhecido como arsênico, não tem gosto, mas algumas literaturas apontam que o metal pode ter um gosto adocicado. O especialista acrescenta que, por ser um produto clandestino no Brasil, o arsênio pode estar misturado com outras substâncias e que podem alterar o sabor.