Em setembro do ano passado, Paulo Luiz dos Anjos morreu vítima de intoxicação alimentar. Contudo, após as mortes de três familiares e hospitalização de outros três por envenenamento em dezembro do ano passado após comerem um bolo de Natal, em Torres, no Litoral Norte, a polícia decidiu pedir a exumação do corpo do homem. O procedimento foi realizado na manhã desta quarta-feira (8) no Cemitério São Vicente, em Canoas. O trabalho durou menos de 15 minutos. A exumação foi autorizada pela Juíza Marilde Angélica Webber Goldschmidt, em 31 de dezembro.
Como ocorre a exumação
Paulo Barragan, médico legista e diretor do DML, explica que as condições climáticas e de conservação do corpo são fatores determinantes para o tempo de duração do procedimento e do tipo de análise que será feita no corpo.
Após a retirada do ataúde, o corpo é conduzido por uma equipe de remoção em uma viatura do Instituto-Geral de Perícias (IGP) até o DML.
O diretor comenta que, no local, dois peritos trabalharão no corpo. A análise ocorre em três cavidades: no tórax, no abdômen e no crânio. Nesse caso em específico, o perito aponta que devido ao tempo que já se passou desde a morte, em setembro, é possível que não sejam encontrados fluidos no corpo.
— O que for possível detectar, vai ser tentado. Por exemplo, no próprio estômago e no conteúdo, dependendo do estado do corpo, a gente consegue ainda coletar. O correto seria, se fosse uma morte recente, coletar o conteúdo do estômago, do fígado, rins, eventualmente urina, se tivesse — sublinha.
Busca por arsênio facilitará o trabalho
Barragan comenta que nos processos de exumação, geralmente, os peritos não fazem buscas por algo em específico, mas fazem testes para verificar o que pode ter causado a morte da vítima. Contudo, a suspeita de envenenamento por arsênio, segundo ele, facilitará a análise.
— Existe alguma coisa que fala a nosso favor, nesse caso específico, que o arsênio, por ser um metal pesado, um elemento metálico, ele fica mais tempo (no organismo). Ele vai ser localizado com mais facilidade, se houver alguma coisa. É diferente de outros venenos que podem ser até digeridos no processo de putrefação. Eles se alteram e nós perdemos a chance de identificá-los — frisa o perito.
O diretor diz também que o arsênio pode permanecer no corpo durante mais de um ano, causando inclusive, a contaminação do solo. Por esse motivo, quando a pessoa está sepultada direto no solo, a equipe também coleta uma amostra de terra.
Análise deve ser priorizada
Após a coleta de material genético, o corpo é reconduzido ao túmulo. A partir daí, as amostras recolhidas pelos peritos são encaminhadas para um laboratório e analisadas.
Em alguns casos, as análises laboratoriais podem levar entre 60 e 90 dias. No entanto, o médico legista acredita que, em função da repercussão do caso, essa análise deva ser priorizada.
— A gente deve entender, por exemplo, que o laboratório não atende exclusivamente o DML. Ele atende todas as demandas de exames periciais do Estado relacionados com a autoridade policial — acrescenta.
Relembre o caso
Paulo era esposo de Zeli Teresinha Silva dos Anjos, responsável por preparar a tradicional iguaria de família que resultou nas mortes de Neuza Denize Silva dos Anjos, 65 anos, Maida Berenice Flores da Silva, 59, além de Tatiana Denize Silva dos Anjos, 47 anos, filha de Neuza.
Zeli, responsável por fazer o bolo, permanece hospitalizada. Ela deixou a UTI na manhã de segunda-feira, de acordo com o boletim médico.
A análise pericial apontou que o bolo continha arsênio em níveis letais. Já a farinha utilizada para o preparo do doce tinha concentração 2,7 mil vezes maior que o bolo.
A investigação da Polícia Civil, apontou que a responsável por envenenar a farinha seria Deise Moura dos Anjos, nora de Paulo e Zeli. O motivo, segundo a polícia, seria um desentendimento com a sogra, ocorrido há cerca de 20 anos.