A Polícia Civil apura denúncias sobre furtos de celulares ocorridos na Cidade Baixa, em Porto Alegre. Segundo vítimas ouvidas pela reportagem, um grupo de mulheres seria responsável pelos crimes, que vêm sendo registrados desde 2023 em diferentes pontos da região central da Capital.
Segundo uma das vítimas, que prefere não se identificar, os ataques ocorrem em locais onde as pessoas se reúnem em grupos em frente aos bares, como na Travessa dos Venezianos, na Rua José do Patrocínio, na Rua General Lima e Silva ou na Rua João Alfredo. O grupo seria composto por quatro a cinco mulheres, que algumas vezes chegam acompanhadas de dois homens.
— Elas são altas e usam unhas postiças. Elas geralmente estão mais sérias. Já vi elas em vários lugares — conta uma das vítimas.
Na noite da última sexta-feira (15), pessoas que estavam em frente a um bar na Cidade Baixa relataram ter presenciado uma agressão cometida por duas dessas mulheres contra uma frequentadora. Segundo testemunhas, a vítima teria reagido a uma tentativa de furto e acabou sendo atingida por um soco no rosto. Após isso, supostas agressoras teriam feito ameaças aos presentes.
Uma outra frequentadora do mesmo bar relata que, em agosto do ano passado, teve o celular furtado de dentro da sua pochete em um momento de distração.
— Lembro de ter sido alertada por um amigo para cuidar da minha pochete porque a tal da gangue estava por ali. Era uma pochete que facilmente poderia ser aberta e estava na minha cintura — lembra.
No entanto, os casos não acontecem somente durante a noite. Uma denúncia registrada junto à Polícia Civil em 29 de janeiro do ano passado narra o furto de um celular, supostamente cometido pelas mesmas mulheres, durante um bloco de carnaval, na avenida Edvaldo Pereira Paiva.
— Foi entre duas e três da tarde. Estava em uma roda conversando com uns amigos e senti, muito de leve, um movimento na minha pochete. O celular estava dentro dela amarrado em uma cordinha. Olhei para trás e vi as figuras. Já vi elas diversas vezes em outros lugares, já vi elas furtando outras pessoas. As pessoas já sabem quem são elas — diz a vítima.
A vítima acrescenta que o seu dispositivo tinha geolocalização e que no dia seguinte apontou para a Avenida Luiz Guaranha, no bairro Menino Deus.
Também durante um bloco de carnaval, outra vítima relatou que estava tocando um instrumento de percussão, carregando sua pochete presa à cintura, quando percebeu uma pessoa retirando o dispositivo de dentro. Como estava no meio do bloco, com o instrumento, não foi possível ir atrás do responsável que, segundo ela, seria uma dessas mulheres.
Modus operandi
As vítimas relatam que os próprios frequentadores dos bares avisam quando as suspeitas estão por perto para que os demais tomem cuidado com seus pertences. O bando ficou conhecido popularmente como “Gangue das Gordas”, em alusão ao grupo criminoso que cometia diversos furtos no centro da Capital e na Região Metropolitana em 2012.
Segundo as denúncias, as mulheres agem de forma rápida e sorrateira. As vítimas dizem que uma delas pega o celular de dentro da bolsa do alvo e repassa para outra suspeita, que sai de perto. Quando confrontadas, as mulheres alegam estar sendo vítimas de racismo para ganhar tempo. Enquanto isso, a integrante que está com o celular vai para longe com o aparelho.
Investigação
O delegado Ajaribe Rocha Pinto, titular da 10ª Delegacia de Polícia de Porto Alegre, que responde pela Cidade Baixa, informou que até o momento não teve acesso ao boletim de ocorrência relatando o caso mais recente, mas que assim que recebê-lo dará início às investigações. Ele pontua que os casos de furtos de celulares são recorrentes nos locais onde há grande circulação de pessoas na região.
— Vamos procurar a identificação dessas pessoas por meio de câmeras de videomonitoramento. Nesses casos, é muito importante que as pessoas procurem os seguranças dos estabelecimentos ou os policiais militares para que possam efetuar a prisão em flagrante — ressalta.
O delegado diz que devem ser ouvidas testemunhas e proprietários de estabelecimentos para tentar identificar o grupo. Ele explica que a legislação prevê penas de um a quatro anos de prisão para o crime de furto, podendo ser ampliado dependendo dos agravantes.
Importância da denúncia
O tenente-coronel Fábio da Silva Schmitt, comandante do 9º Batalhão de Polícia Militar, que responde pela Cidade Baixa, destaca que a região tem uma população “flutuante” muito expressiva, composta por pessoas que estão de passagem, seja para frequentar os bares ou em deslocamento pela cidade. Segundo ele, a incidência desse tipo de crime na região está controlada, com média de um furto registrado a cada dois dias.
— Estamos sempre fazendo o policiamento ostensivo, 24 horas, sete dias por semana. Na Cidade Baixa, em específico, tem bastante atuação com motocicleta e bicicletas — pontua o oficial.
No entanto, o comandante salienta que é necessário que as pessoas registrem o boletim de ocorrência, tanto para que a corporação possa mensurar a dimensão dos casos, quanto para estabelecer estratégias para o enfrentamento do problema.
— As pessoas têm que parar com a ideia de que não vai adiantar nada. Como nós não estamos em todos os lugares, a gente precisa do registro do fato, porque com ele podemos saber onde, quando e como está acontecendo. E assim podemos destinar para aquele lugar o efetivo necessário para prevenir e combater a criminalidade — frisa o oficial.
Dicas de segurança
Comandante do 1º Batalhão de Polícia Militar, responsável pela fiscalização da orla do Guaíba, o tenente-coronel Márcio Luiz da Costa Limeira afirma que a corporação já tomou conhecimento de casos envolvendo mulheres que estariam furtando celulares. Ele pontua que algumas vezes os casos ocorrem dentro de ambientes fechados, onde a Brigada Militar não pode acessar. Segundo ele, durante um show ocorrido no ano passado, em um local próximo à Orla, uma destas mulheres foi presa.
— Tivemos a prisão em flagrante de uma delas com quatro celulares. As pessoas querem aproveitar, sair com duas ou três bebidas para ir o mínimo de vezes à copa e bebendo o máximo possível, em uma área em que a polícia não está. É nesse momento que elas se aproveitam — explica.
O comandante dá algumas dicas para se proteger de furtos em eventos sociais:
- Evitar usar bolsas nas costas;
- Não colocar os pertences no bolso de trás da calça;
- Não carregar celular embaixo da saia ou dentro de peças de roupa;
- Se possível, sair sem celular, ou concentrar na mão de alguém que fique com o aparelho enquanto a pessoa estiver no meio da multidão;
- Em caso de furto, comunicar o quanto antes a segurança do local ou a Brigada Militar.