Uma operação montada às pressas ao redor de uma casa de alto padrão, na zona norte de Porto Alegre, capturou o homem considerado um dos principais líderes da facção que surgiu no bairro Vila Jardim — um grupo ligado a tráfico de drogas e assassinatos. De acordo com a Polícia Civil, Daniel Almeida da Silva, 37 anos, conhecido como Dani Boy, estava foragido desde 2021 e seria um dos principais aliados do líder do grupo criminoso, Jackson Peixoto Rodrigues, que se intitula Nego Jackson, tido como um dos maiores distribuidores de droga do Estado, preso em 2017 no Paraguai.
A prisão do homem ocorreu no fim da tarde de terça-feira (19), em condomínio no bairro Sarandi, mas só foi divulgada nesta quinta-feira (21). O trabalho foi desempenhado pela Delegacia de Capturas, que pertence ao Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) da Polícia Civil.
Em nota, a defesa do homem nega que ele tenha "qualquer vinculação com os fatos imputados" a ele (confira o posicionamento abaixo, na íntegra).
Conforme a polícia, a investigação começou há cerca de três meses e verificou que o homem mudava de residência com frequência, na tentativa de não ser localizado pelas autoridades. Durante os cerca de 90 dias de investigação, ele passou por diversas cidades do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Rio de Janeiro e até pelo Paraguai.
— Ele não costuma ficar mais de uma semana no mesmo local, justamente para evitar a prisão ou a ação de grupos rivais — explicou o diretor da Divisão de Investigação do Deic, delegado Eibert Moreira Neto.
A partir da investigação, as equipes tomaram conhecimento de que o homem estaria passando a semana em Porto Alegre, em uma casa dentro de um condomínio de alto padrão na Zona Norte. O local passou a ser monitorado diariamente e, na tarde de terça, o homem foi visto na sacada dos fundos da moradia. Com a confirmação de que ele estava ali, o espaço foi cercado, em uma operação urgente.
Homem tentou escapar
Ao perceber a ação, o investigado teria tentado fugir dos policiais, mas não conseguiu escapar porque "a casa estava totalmente cercada", afirma o DEIC. Na residência, foi encontrada uma carteira de motorista com sinais de adulteração, que foi apreendida e será encaminhada para perícia.
A frente da ação e titular da delegacia de Capturas, o delegado Gabriel Casanova afirma que Dani Boy atuava no financeiro do grupo, mas vinha tentando retomar o comando de um ponto de tráfico de drogas no bairro Jardim Carvalho.
— Hoje, ele atua na coordenação do financeiro: compra armas e drogas e distribui entre os integrantes da facção. A investigação apontou que ele também seria o financiador de diversos homicídios que ocorreram na região do bairro Jardim Carvalho, onde atuou como gerente do tráfico em 2016. Perdeu esse posto para um grupo rival, mas vinha tentando retomar desde 2021 — diz Casanova.
Controle do dinheiro
De acordo com o Deic, Dani Boy teria se tornado voz mais ativa dentro do grupo criminoso depois que Nego Jackson foi preso, em 2017. Ele passou a exercer novas funções dentro da facção, atuando na compra de armas e drogas, afirmam investigadores. Além disso, teria feito alianças com outras facções. No entanto, informações obtidas pela Polícia Civil em investigações indicam que ele teria perdido o controle do tráfico de drogas na região, e vinha tentando retomar o poder. Atualmente, era responsável pelo financeiro da facção:
— Ele é uma referência na organização criminosa. É responsável pelo financeiro do grupo, faz a lavagem do dinheiro obtido e gerencia a aquisição de equipamentos, como armas, que são usadas em conflitos entre criminosos. A captura dele acaba por enfraquecer toda a facção — complementa Moreira.
Contraponto
O advogado Thiago Machado, que atende Daniel Almeida da Silva, enviou nota à reportagem:
"Daniel foi preso em casa sem qualquer resistência à sua prisão. Além disso não tem qualquer vinculação com os fatos imputados a ele e o processo está submetido ao tribunal de justiça para a devida apreciação, reconhecimento da verdade e declaração da denúncia infundada."