O Escritório Regional para a América do Sul da ONU Direitos Humanos condenou o assassinato da líder quilombola Maria Bernadete Pacífico, conhecida como Mãe Bernadete, e pediu uma investigação "célere" e "transparente" por parte das autoridades. A ialorixá foi executada a tiros na última quinta-feira (17), em Simões Filho, na região metropolitana de Salvador, na Bahia.
"A ONU Direitos Humanos convoca o Estado brasileiro a realizar uma investigação célere, imparcial e transparente, e que sejam respeitados os mecanismos de proteção legal para o amparo das comunidades quilombolas, bem como medidas de proteção e reparação para os familiares e a comunidade de Bernadete Pacífico", disse a organização em nota emitida neste sábado (19). No mesmo comunicado, o órgão pediu ao Estado brasileiro que reforce a proteção às pessoas e lideranças que defendem os direitos humanos.
O representante da ONU Direitos Humanos na América do Sul, Jan Jarab, definiu o crime como "terrível" e afirmou que a morte de Bernadete Pacífico não pode ficar "impune". "É um lamentável novo exemplo dos perigos que as comunidades quilombolas enfrentam diante da violência daqueles que ameaçam seus territórios e sua cultura", disse.
Despedida
Também neste sábado, Mãe Bernadete foi sepultada, sob protestos e homenagens. O enterro ocorreu no cemitério Ordem Terceira de São Francisco, na Baixa de Quintas, em Salvador, no mesmo mesmo local onde Gabriel Pacífico dos Santos, filho da líder também morto a tiros em 2017, está enterrado.
Antes, o caixão com o corpo da ialorixá foi colocado em um carro de bombeiros, e coberto com uma bandeira do Estado da Bahia, segundo o g1. Atrás do veículo, membros da comunidade quilombola, amigos e familiares fizeram uma caminhada e cantaram em homenagem a Mãe Bernadete.
Uma das principais representantes dos quilombolas, Mãe Bernadete era líder do Quilombo Pitanga dos Palmares, coordenadora da Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (Conaq), e ocupou o cargo de secretária de Promoção da Igualdade Racial de Simões Filho.
Na última quinta, ela foi executada por dois criminosos, que invadiram o seu terreiro, enquanto ela assistia televisão com os netos. Segundo as investigações, os suspeitos usavam capacetes para dificultar o reconhecimento.
Em julho, durante um encontro com a presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Rosa Weber, em Lauro de Freitas, na região metropolitana de Salvador, a líder quilombola denunciou à ministra que ela e outros membros da comunidade Pitanga dos Palmares já vinham sofrendo ameaças de morte.
Em 2017, o filho de Bernadete Pacífico, Gabriel Pacífico dos Santos, o Binho do Quilombo, também foi morto a tiros, no mesmo quilombo. O crime não foi solucionado. A ialorixá ainda buscava respostas para o assassinato do filho.
Investigações
A Polícia Federal da Bahia e Polícia Civil investigam o caso o assassinato de Maria Bernadete Pacífico. A Superintendência da PF no Estado informou que também é responsável pela investigação do assassinato de Binho do Quilombo. Os dois processos seguem em sigilo.
Jurandir Wellington Pacífico, filho de Bernadete e irmão de Binho, acredita que a execução da mãe foi motivada por interesses relacionados à exploração de terra.
— Especulação imobiliária, grilagem de terra, política, grandes empreendimentos, tudo isso aí — disse à TV Brasil, na última sexta (18). — É crime de mando, crime de execução, não tem para onde correr, igual ao de Binho do Quilombo. Eu já perdi meu irmão, já perdi minha mãe, só resta eu, eu sou o próximo.