A Polícia Civil segue investigando um grupo criminoso do noroeste gaúcho que foi alvo de uma ação na última quarta-feira (12) no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo. Os suspeitos criaram um esquema criminoso com falsos investimentos online e teriam, segundo a polícia, movimentado mais de R$ 700 milhões.
A projeção, porém, pode chegar a R$ 1 bilhão. Os agentes descobriram centenas de contas bancárias no Exterior. Além disso, foram contabilizados valores de outras contas, no Brasil, e de apreensões realizadas durante a semana. Depois que a operação policial foi deflagrada, mais um suspeito foi detido, totalizando nove presos e dois foragidos. Um dos presos é funcionário da prefeitura de Santo Antônio das Missões.
O titular da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) de São Luiz Gonzaga, Heleno dos Santos, que comandou a ação mobilizando 150 agentes, também foi responsável pela ampliação da apuração. Ele ressalta que o equivalente a R$ 700 milhões — aplicados no Exterior pelos golpistas — são depósitos em dólares e em criptomoedas.
O objetivo da polícia é fazer um levantamento preciso destes valores que estão fora do País e solicitar, via Justiça, o bloqueio deles. Mas isso irá depender de contato com cada um dos governos das nações onde os suspeitos investiram, bem como da legislação de cada uma das regiões.
O primeiro passo é mapear as contas . O delegado tem como meta tentar deixar esse dinheiro disponível, em caso de condenação, para possível ressarcimento de vítimas.
Sobre as apreensões, Santos diz que a Justiça determinou a indisponibilidade de 33 veículos e imóveis adquiridos pelos criminosos. Somente em carros, o valor é estimado em R$ 1,1 milhão. Nas contas no Brasil, já bloqueadas judicialmente, havia R$ 252 mil. No dia da ação, com os presos, ainda foram encontrados mais R$ 13,9 mil.
O delegado já contabilizou 4 mil vítimas que foram lesadas em cerca de R$ 20 milhões. No entanto, dezenas ainda têm procurado a Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas e outras delegacias do noroeste. Além disso, estão sendo feitas denúncias online, inclusive em outros Estados, que estão sendo encaminhadas para a polícia gaúcha.
— Além dos valores que devem chegar a R$ 1 bilhão, com certeza, acreditamos que o número de vítimas é muito, mas muito maior mesmo do que já apuramos. Para se ter uma ideia, encontramos 28 grupos de WhatsApp criados pelos estelionatários e, cada um, tem pelo menos dois mil integrantes — explica Santos.
Falsos investimentos
Os golpistas se passavam por corretores financeiros e indicavam uma plataforma online. No momento que a pessoa baixava o aplicativo no celular e cadastrava todos os dados, anexava documentos próprios e, ao invés de fazer investimentos, acabava depositando sem saber valores nas contas dos criminosos, muitas delas no Exterior.
O delegado Santos ressalta também que as vítimas recebiam links para aderir aos grupos de WhatsApp com os seguintes nomes: "Águia", "Águia Vip" e "New Invest". Desta forma, elas recebiam orientações de como investir e sempre com a sugestão de que fossem aplicações mais rápidas possíveis, porque os supostos consultores financeiros tinham informações privilegiadas sobre o mercado. A promessa era de que todos teriam grandes lucros.
Os desvios ocorriam via Pix, TED ou boletos, todos gerados a partir de uma outra plataforma, que era regular. Ocorria que eles faziam uma mescla, ou seja, uso de aplicativos legítimos com uso de aplicativo falso para tentar mascarar o golpe. A investigação começou por Santo Antônio das Missões, quando os prejuízos começaram a aparecer.