Pelas calçadas da Rua Coronel Corte Real, no bairro Petrópolis, em Porto Alegre, o assunto principal das rodas de conversa na tarde desta terça-feira (28) era apenas um: as invasões e tentativas de furto que ocorreram durante a madrugada em, pelo menos, 10 endereços. Moradores contam que já estavam apreensivos após relatos de quatro arrombamentos na rua nas últimas semanas e que já haviam procurado apoio junto à Brigada Militar.
Os ataques ocorreram entre 5h e 6h, no trecho localizado entre a Avenida Ipiranga e a Rua Felipe de Oliveira. Câmeras de segurança registraram a ação de, pelo menos, dois suspeitos que ainda não foram identificados ou presos. Em um dos prédios atacados, o síndico flagrou a ação de um dos invasores.
Por volta de 5h50min, Mateus Marques, 40 anos, acordou com o som do alarme de um prédio vizinho. Síndico do prédio e morador de um dos apartamentos frontais, ele relata que foi até a sacada verificar o que estava acontecendo, quando se deparou com um homem dentro do pátio tentando levar uma bicicleta que estava na garagem.
Ele conta que entrou novamente no apartamento, pegou o seu telefone e chamou a Brigada Militar. Ao retornar à sacada, o suspeito tentava arremessar a bicicleta por uma cerca lateral que conduziria ao portão de saída.
— Quando ele veio pra cá, eu gritei ‘estou chamando a polícia’ e ele já disse ‘estou saindo’. O vizinho do outro apartamento jogou dois vasos de planta, ele pulou a cerca e fugiu — conta o síndico.
Ele diz que aparentemente o homem não estava armado. Um vizinho teria tentado tirar o carro da garagem para seguir o invasor, mas não conseguiu porque a porta da garagem foi danificada. Segundo ele, cerca de 20 minutos depois a BM chegou ao local. Pelo WhatsApp, ele recebeu a informação de que teriam arrombado um prédio vizinho e foi verificar.
— Conforme eu fui descendo a rua eu só via as portas arrombadas e as pessoas na frente. Foram, sei lá, oito ou dez, mas nessa noite só conseguiram entrar em duas ou três — comenta.
Às 17h, uma equipe chegou ao prédio para realizar reparos nos portões danificados. O sistema de tags estava em processo de instalação justamente para garantir mais segurança no condomínio após os relatos das últimas semanas. Contudo, todos os ataques relatados à reportagem ocorreram em condomínios que utilizam as tags eletrônicas.
A sensação que se tem é de que tu vai fazendo várias coisas e eles vão achando um jeito. A gente se sente de mãos atadas. Vamos tentando tapar o sol com a peneira, mas o cara entrou por um lugar que a gente não imaginava.
MATEUS MARQUES, 40 ANOS
Morador de um dos prédios invadidos no Petrópolis
— A sensação que se tem é de que tu vai fazendo várias coisas e eles vão achando um jeito. A gente se sente de mãos atadas. Vamos tentando tapar o sol com a peneira, mas o cara entrou por um lugar que a gente não imaginava. Noite passada eu já não dormi direito por causa desse histórico, daí hoje de madrugada acontece isso. Essa noite vai ser difícil — comenta Mateus.
Em outro condomínio, um técnico efetuava um reparo no portão e conversava com uma moradora que preferiu não se identificar. A mulher disse que estava apreensiva com a situação e destacou que estavam discutindo a instalação do sistema de tags em seu prédio, mas que depois do ocorrido iriam repensar, uma vez que o local não foi atacado e ela acredita que o motivo seja a fechadura tradicional. Já em outro endereço, duas bicicletas foram levadas.
No prédio do outro lado da rua, o suporte, onde até a madrugada anterior havia um interfone com dispositivo para leitura da tag eletrônica, agora jazia vazio com um maço de fios coloridos expostos. Acima do suporte, um morador afixou um papel com um telefone para que os entregadores possam contatá-lo caso chegue uma encomenda pelo Correio.
— Eu não vi, mas sei que eles conseguiram entrar pelo portão e andaram pelo pátio. Como não encontraram nada para levar e não conseguiram abrir a porta do prédio, foram embora — conta Flávio Argiles, 50 anos, morador do condomínio, que ainda não tem prazo para ter um novo interfone.
Alguns metros à frente, um outro prédio, que também foi alvo do ataque desta madrugada, já havia sido atacado no domingo de Carnaval (19). Na ocasião, o apartamento do zelador, Roque Santos, 39, foi invadido e diversos pertences foram levados. Desta vez, os dois suspeitos conseguiram entrar pelo portão e acessaram o hall de entrada do prédio, mas fugiram quando o alarme disparou.
— Naquele domingo eles invadiram às 11h, quando eu não estava em casa. Eles levaram tudo o que tinha, só deixaram a TV porque eu prendi o cabo da internet. Levaram material escolar e até comeram dentro do apartamento — conta o zelador.
Morador do mesmo condomínio, o professor Flávio Dutra, 56, conta que não estava em casa no momento da invasão desta madrugada, mas pontua que já vinha acompanhando os relatos que circulam pelo bairro.
— Eu moro aqui há 20 anos e fazia muito tempo que não acontecia algo assim — diz o professor.
Policiamento e reunião com moradores
Entre as medidas apontadas pela Brigada Militar para evitar novos casos estão readequações no policiamento e a convocação de uma reunião com a comunidade. O encontro foi marcado para as 18h de quinta-feira (2), na sede do 11º Batalhão de Polícia Militar (BPM).
O tenente-coronel Daniel Araújo, comandante do 11º BPM, critica o uso do termo "arrastão" e salienta que os ataques ocorreram em um período de 15 a 20 minutos, de forma desordenada. O comandante ressalta que é fundamental que as pessoas efetuem o registro das ocorrências e frisa que houve uma queda de 33% no número de furtos em residências na região no comparativo entre fevereiro de 2022 e 2023.
— A ocorrência de fato foi o furto de duas bicicletas e essas pessoas não haviam registrado esse furto até o final da tarde de hoje. Algumas pessoas disseram que não fizeram registros porque a brigada já estava no local e não queriam ir até a delegacia, sendo que é possível fazer o registro ali no local mesmo com os policiais. Não vamos reforçar o policiamento, porque isso faz parecer que não tinha, vamos readequar os horários de patrulhamento com base nos fatos de hoje — ressalta o titular do 11º BPM.
A investigação da Polícia Civil será conduzida pela 8ª DP. Conforme o delegado Luciano Peringer, as imagens de dois suspeitos estão sob análise:
— Estamos investigando eventos semelhantes nos últimos dois meses na região. Ladrões acabam se aproveitando do período de férias e que os locais estão vazios.