No terceiro depoimento da tarde desta terça-feira (17) no julgamento de Alexandra Salete Dougokenski, 35 anos, acusada de ter assassinado o filho Rafael Mateus Winques, 11 anos, em Planalto, no norte do Estado, a avó materna no menino, Isailde Batista, iniciou seu relato bastante nervosa e precisou tomar água para se acalmar. A juíza determinou que fosse realizada uma pausa, antes de ser retomado o depoimento.
Isailde defendeu a filha, afirmou que ela era uma mãe dedicada e que não acredita que ela tenha assassinado o neto.
— Se não foi o pai que levou o guri dali, com vida, Deus me mate aqui — disse, referindo-se a Rodrigo Winques, pai de Rafael, que prestou depoimento no início da tarde.
Sobre ele, Isailde ainda disse que o neto referia-se ao pai como "o demo" (em referência a demônio) e que nunca pensou ou cogitou morar com pai, contrariando o que disse Rodrigo durante depoimento mais cedo.
— O menino sabia muita coisa, e ele (Rodrigo Winques) se obrigou a calar a boca do Rafael. A gente nunca se deu, nunca pudemos fazer um almoço em família — completou, justificando que o ex-genro era "bandido e ladrão".
A avó de Rafael afirmou que Rodrigo sempre bateu em Alexandra e que o neto teria chegado a interferir em um suposto ataque do pai contra a sua mãe.
Sobre a noite do desaparecimento de Rafael, Isailde relatou ter ouvido o som de um carro se aproximando da casa e ter alertado um dos filhos sobre isso, mas admitiu que não informou esses fatos em depoimento à polícia anteriormente.
Logo depois, a avó descreveu Alexandra como uma mãe cuidadosa e dedicada.
— Mãezona — relatou, dizendo que chegava a ter ciúmes dos netos, de tanto que a filha se doava aos dois.
O advogado Filipe Trelles indagou se Isailde acreditava que a filha poderia ter matado o neto e ela respondeu negativamente:
— Dou minha vida como ela não matou o filho. Ela não mata um bichinho.
No momento em que o Ministério Público passou a questionar a avó, exibiu entrevistas que Isailde concedeu logo após a filha confessar o crime.
— A senhora disse que Alexandra não era mais sua filha, por que a senhora disse isso? — questionou o promotor Diogo Gomes Taborda.
— Eu abandonei minha filha, eu não ajudei ela — disse.
Ele indagou na sequência por que ela não falou antes à imprensa sobre o som do carro que ouviu naquela noite. Nas duas vezes, a avó tergiversou, e não respondeu claramente.
Logo depois, a avó passou a ser indagada pela promotora Michele Dumke Kufner, que mostrou um dos vídeos dos depoimentos prestados por Isailde na fase da investigação. A promotora questionou por que ela não relatou ao delegado sobre o barulho de carro.
— Acho que levei uns dois meses para digerir o sofrimento. Eu não dormia de noite — disse a avó, afirmando que não sabia o que fazer.
No momento em que o MP exibia outro vídeo, a juíza interrompeu e pediu novamente que fosse mantida a objetividade. A acusação insistiu na pergunta sobre o motivo de ela não ter relatado anteriormente o som do veículo.
— A ficha me caiu dois mês. Era muito sofrimento. Não é fácil. Eu não quero para ninguém o que eu passei. Não desejo para ninguém esse sofrimento — disse a avó.
Logo depois, houve novo embate entre as partes e avó optou por não responder mais perguntas. O depoimento dela foi encerrado, seguido por intervalo de 30 minutos.
"Não faz sentido algum", diz irmão de Alexandra
Num depoimento sucinto no fim da tarde, Alberto Cagol, irmão de Alexandra também disse não acreditar que a irmã tenha cometido o crime.
— Minha irmã era mais mãe para aqueles piá do que minha mãe foi pra mim — disse.
Enfatizou diversas vezes que a irmã era cuidadosa com o sobrinho.
— Todo dia ela levava ele na escola — relatou.
Indagado sobre uma homenagem que Rafael teria feito à mãe no dia dos pais, afirmou:
— Ela era pai e mãe. O pai nunca foi presente.
Indagado pelo advogado Filipe Trelles sobre qual a possibilidade de Alexandra ter sido a autora do crime, respondeu:
— Nenhuma. Não faz sentido algum. A gente que convivia, não faz sentido. O dia que acharam, que falaram, foi de cair o chão. Só quem estava lá para ver como era essa mãe com o filho que ela tinha.
O Ministério Público começou a exibir um vídeo de uma gravação anterior de Alberto, no qual ele apresentaria outra versão. Neste momento, o irmão se exaltou e se levantou da cadeira, dizendo que não responderia mais perguntas da acusação. A juíza concedeu o pedido e encerrou o depoimento.
Perita criminal é última testemunha
A última testemunha ouvida nesta terça-feira (17) é a perita criminal Bárbara Zaffari Cavedon. Foi ela quem coordenou a reprodução simulada dos fatos, popularmente conhecida como reconstituição, que foi realizada para verificar a versão do crime.
A defesa de Alexandra, que indicou a testemunha para ser ouvida, foi quem iniciou as perguntas, pedindo que a perita detalhasse o procedimento. A perita confirmou que Alexandra não tinha condições de carregar o boneco usado para simular Rafael.
Logo depois, o Ministério Público iniciou as perguntas.
— O fato de ela não ter conseguido carregar o boneco não significa que ela não conseguisse carregar o filho? — questionou a promotora Michele Dumke Kufner.
A perita explicou que o boneco tinha uma distribuição diferente de peso. Além disso, afirmou que Alexandra relatou que naquele dia tinha sofrido mal estar durante o transporte e precisou ser medicada, o que pode ter afetado a capacidade dela de transportar o boneco, ainda que tivesse peso semelhante ao do garoto.
A perícia foi realizada com base na versão que havia sido apresentada por Alexandra sobre a morte do filho.
A perita é a última testemunha ouvida no julgamento — uma policial civil foi dispensada de depor. Na quarta-feira (18), o júri deve ser retomado com o interrogatório de Alexandra. A acareação, momento em que a ré e o pai de Rafael seriam confrontados, não será mais realizada. Após o relato dela, serão iniciados os debates entre acusação e defesa.