A Polícia Civil informa que os dois mortos em ataque a tiros na tarde de terça-feira (27) em uma barbearia no bairro Cascata, na zona sul de Porto Alegre, não eram alvo dos criminosos. Na ação, outras duas vítimas ficaram feridas. Uma delas, conforme a investigação, seria a pessoa que os quatro atiradores queriam atingir. Foram dados pelo menos 30 tiros contra o estabelecimento comercial, na esquina da Estrada dos Barcellos com a Rua Dona Mosa.
Eliézer Samuel Silveira Lucas, 12 anos, morreu no hospital após levar um tiro. Ele estava cortando o cabelo no local no momento em que houve os disparos. Segundo a polícia, os criminosos estavam dentro de um Onix e passaram pela rua atirando.
O adolescente fazia parte do projeto comunitário Cristo Vive. Uma das responsáveis, Chaiane Quins, diz que é um momento muito triste que todos estão vivendo na região.
— Triste, perdemos um dos nossos. Ele era filho de um dos nossos pastores, a gente viu ele crescer, estávamos sempre juntos. A gente não acredita ainda nessa perda, ainda não caiu a ficha que ele partiu e de uma forma tão precoce, tão cruel — lamenta Chaiane.
O sepultamento de Eliézer está marcado para as 14h no cemitério João XXIII.
A outra vítima que morreu também não era alvo dos criminosos, conforme a polícia. O barbeiro Edgar Rodrigues Lisboa faria 27 anos em 18 de outubro. Amigos informaram que ele deixa um filho pequeno, que vai fazer aniversário nos próximos dias.
Morador da região onde aconteceu o ataque, Maurício Boaventura de Oliveira conta que conhecia Edgar e lamentou a morte de uma pessoa sem envolvimento com o crime. Ele diz que o barbeiro teria tentado proteger o adolescente Eliézer.
— Um rapaz que tem um filho pequeno. Muito conhecido na região, trabalhador, honesto e jogava em um time de futebol do projeto. É uma perda grande para a família, claro, mas é uma perda para todo o bairro. Todos nós lamentamos, está muito difícil mesmo — ressalta Oliveira.
O corpo do barbeiro deve ser sepultado às 17h, no cemitério da Santa Casa, mas pode atrasar porque ainda depende de liberação pelo Departamento Médico Legal (DML).
Uma terceira vítima, um homem de 23 anos, teve ferimentos, está internado em hospital e tem quadro estável. A polícia diz que esse jovem também não tinha envolvimento com crime.
Moradores da região dos bairros Cascata e Glória organizam homenagem às vítimas e um protesto pedindo mais segurança. O horário previsto é 17h, no cruzamento das avenidas Oscar Pereira e Herval. Amigos e familiares das vítimas também se uniram e juntaram dinheiro para pagar velórios e sepultamentos do jovem e do adolescente.
Alvo
A titular da 1ª Delegacia de Homicídios da Capital, delegada Isadora Galian, destaca que a quarta vítima dos disparos, um homem de 20 anos que está em estado grave no hospital, era o alvo dos criminosos — o nome dele e o hospital onde está internado não foram divulgados.
Ela ressalta que o suspeito usava uma tornozeleira eletrônica, mas havia rompido o equipamento. A delegada havia solicitado a prisão preventiva dele neste ano por homicídio.
Segundo a delegada, este homem e mais três criminosos teriam participado do assassinato de um homem na Capital, envolvendo briga entre facções. Isadora ressalta que o pedido foi indeferido pela Justiça porque se tratava de um caso antigo e que necessitaria de mais atualizações para o deferimento da prisão.
— A Justiça entendeu a gravidade do crime em questão e de que havia elementos suficientes para a prisão, mas acredito que o tempo entre o pedido de prisão e a data do homicídio podem ter influenciado na decisão — diz Isadora.
A polícia apura se o ataque desta terça-feira tem ligação com a guerra de facções na Região Metropolitana. Um dos fatos que podem ligar o crime com os confrontos, segundo o delegado Eibert Moreira Neto, diretor da Divisão de Homicídios, é que o alvo dos atiradores pertence a um grupo da Vila Cruzeiro, na zona sul de Porto Alegre, e os autores dos disparos seriam do Vale do Sinos.
O delegado informa que não pode dar mais detalhes sobre os suspeitos, mas lembra que são justamente estas as facções que estão em guerra na Região Metropolitana.
O diretor da Divisão de Homicídios e o comandante do Policiamento da Capital da Brigada Militar, coronel Luciano Moritz, devem se reunir ainda nesta quarta-feira (28) para discutir medidas de segurança no município. Moritz ainda destaca que todas as áreas conflagradas pelo tráfico tiveram reforço de policiamento e que a região do bairro Cascata é uma delas.
— Estamos utilizando todos os dias o recurso de viaturas nestas localidades, inclusive com apoio aéreo. São ações de saturação durante 24 horas porque toda a vida importa para nós — destaca Moritz.