Uma das últimas etapas antes da implosão do prédio da antiga sede da Secretaria da Segurança Pública (SSP) do Estado, em Porto Alegre, teve início às 7h desta sexta-feira (4). Os 200 quilos de explosivos usados na detonação começaram a ser instalados. Durante o fim de semana serão realizadas as ligações do circuito, que resultará na demolição do edifício na Rua Voluntários da Pátria às 9h de domingo (6).
No manuseio dos explosivos atuam 14 profissionais, entre eles três engenheiros de minas e seis blasters ou cabos de fogo (funcionários habilitados para esse tipo de trabalho). Para chegar até o terreno, os explosivos contaram com escolta de segurança privada contratada pela FBI Demolidora, empresa responsável pela implosão. A operação tem a fiscalização do Exército e a área está sob monitoramento da Brigada Militar.
No início da manhã, a equipe passou a instalar os explosivos do tipo Ibegel SSP nos pilares inferiores do prédio. Para isso, nos últimos dias, foram abertos 1.184 furos horizontais na estrutura, com 1,02 metro de profundidade. Embora o manuseio de explosivos seja algo de risco, na avaliação do engenheiro de minas Manoel Jorge Diniz Dias, essa etapa não é a mais complexa de toda a operação para a equipe que trabalha no prédio desde 1º de fevereiro.
— Sempre há esse estigma no entorno do explosivo. Mas estamos convivendo com essa etapa com bastante naturalidade. A preocupação foi muito maior ao longo de outros preparativos. No início, tivemos que tomar decisões a respeito de quais procedimentos adotar e garantir a proteção da equipe — recorda o especialista em implosões.
Uma das primeiras atividades no terreno, em fevereiro, foi a limpeza da área e a sinalização dos pontos de risco. O maior perigo, neste caso, é o fato de que o prédio atingido por incêndio em julho do ano passado já tinha ruído parcialmente. O desabamento causou a morte de dois bombeiros militares, que faziam o combate às chamas. Nesse contexto, qualquer intervenção no edifício representava certa apreensão.
— A perfuração dos pilares foi um dos momentos que nos trouxe mais preocupação do que o carregamento dos explosivos. As perfurações são interferências numa estrutura que já sofreu um colapso agressivo. Temos pedaços de concretos, lajes de grandes dimensões, ainda pendurados. É uma gama de estruturas colapsadas que compõem um cenário de preocupação e risco com o qual tivemos que conviver — detalha.
O início do contato com o prédio, segundo Dias, foi a etapa de mais apreensão. Ali ainda não se sabia ao certo que tipo de risco seria encontrado. Foi preciso se debruçar sobre aquele gigante em colapso para definir como a operação seria realizada. Sismógrafos foram instalados para monitorar ruído e vibrações, pontos de risco mapeados e as áreas de maior preocupação identificadas e sinalizadas. Pelo 10º dia, a equipe passou a se sentir mais à vontade, já conhecendo melhor cada espaço.
— A UFRGS nos deu apoio no início com alerta sobre as principais estruturas sob risco. Depois, com equipe especializada e uma gama de equipamentos sofisticados, que reuniram informações para que pudéssemos avaliar as reais condições do prédio. Foi um trabalho de uma equipe multidisciplinar que nos permitiu chegar até onde chegamos nesta etapa final da operação de carregamento — explica o engenheiro.
Entre os pontos que foram esclarecidos, por exemplo, está a resistência de cada pilar. Isso era essencial para definir qual cargo de explosivos seria empregada na implosão. Por meio de uso de ultrassom foram mapeados os locais e classificados. Somente após esse estudo é que os profissionais passaram a fazer intervenções, como o envelopamento do prédio com camadas de tela de proteção para evitar que fragmentos sejam lançados para fora do edifício.
A instalação dos explosivos dentro dos pilares deve ser concluída até o fim da tarde desta sexta-feira. Neste sábado (5), os mesmos profissionais vão se dedicar às ligações preliminares — conectar um explosivo ao outro.
Outras ações
Além de todo o trabalho realizado no prédio, operação foi montada para tentar reduzir os riscos de que a implosão possa causar outro dano no entorno. Foi determinada a desocupação de todos os imóveis num raio de 300 metros. Por isso, moradores e proprietários de comércios foram notificados. É necessário deixar os locais até as 8h de domingo, tomando ainda medidas de precaução, como fechar o registro do gás e levar animais de estimação.
O trânsito e transporte também sofrerão alterações, ainda que a implosão seja realizada num domingo. Já no sábado, a partir das 18h, será proibido estacionar veículos no perímetro próximo ao do prédio. Na manhã de domingo, haverá bloqueio em 14 pontos do trânsito, impedindo que veículos e pedestres se aproximem.
Um dos prédios próximos da SSP é a rodoviária, que ficará fechada e funcionará entre 7h e 12h no Terminal Conceição. O trensurb também terá alterações durante a manhã, quando as estações São Pedro, Rodoviária e Mercado estarão fechadas. Os embarques e desembarques mais próximos do Centro só poderão ocorrer na Estação Farrapos. Será disponibilizado ônibus que seguirá até a Estação Mercado.
Implosão
No domingo, serão feitas as últimas ligações, incluindo o circuito que levará ao detonador do principal. Conectado por um tubo pirotécnico de 300 metros, assim que for acionado, o detonador deflagrará uma substância com velocidade de mil metros por segundo.
— Estamos na expectativa com a contagem regressiva até as 9h de domingo. Esperamos que tudo transcorra sem qualquer incidente — afirma Dias.
Antes da implosão, serão emitidos cinco alertas sonoros, sendo o último deles às 8h59min, quando se inicia a contagem regressiva. E em apenas sete segundos uma série de microdetonações fará com que a estrutura venha abaixo.
A demolição será acompanhada por autoridades em espaço a ser montado do outro lado da Avenida Castelo Branco. Após a implosão, os funcionários da empresa esperarão a poeira se dissipar e, em seguida, vão vistoriar o prédio. Os outros imóveis, na chamada área de risco, também serão avaliados. A expectativa é de que até as 9h30min soe nova sirene, indicando que tudo correu como o previsto.