Após operação deflagrada nesta quarta-feira (24), em sete cidades gaúchas, áudios apreendidos durante a investigação de seis meses revelam como ocorria a prática adotada por integrantes de uma facção criminosa do Rio Grande do Sul. O grupo comprava ilegalmente dívidas de credores e, de posse das informações privilegiadas, realizava extorsão mediante ameaças, inclusive cobrando até 10 vezes mais do que o valor inicial.
A polícia divulgou cinco áudios sobre casos de vítimas ameaçadas e que tiveram valores cobrados de forma criminosa. Em uma destas gravações, o traficante ameaça colocar o devedor em um carro com um saco na cabeça para forçar o pagamento.
Em outro áudio, o criminoso diz que está distante 15 minutos do devedor e faz ameaças para ele não bloquear os telefones usados pela facção.
Na terceira gravação, o traficante pede R$ 20 mil para quitar a dívida e ameaça que a vida da vítima vai ser um inferno, que ela não terá mais paz.
Na última mensagem apreendida pela polícia, um integrante da facção diz que está impaciente e que quer o pagamento urgente da dívida. Além disso, ressalta que não terá ninguém para defender a vítima e que a cobrança não ficará apenas na conversa.
Valores 10 vezes maiores
Segundo o delegado Thiago Lacerda, da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) de Canoas, que investiga este crime deste setembro do ano passado, uma vítima que tinha dívida de R$ 9 mil foi cobrada mediante ameaça em R$ 100 mil.
Outro devedor foi cobrado em mais de R$ 250 mil por um valor inicial que era de R$ 30 mil.
— Não houve agressões confirmadas e está sendo feito um levantamento de quantas pessoas pagaram pelos valores exigidos, bem como do número total de vítimas. Muitas das pessoas adquiriram as dívidas porque seus negócios fecharam durante a pandemia — explica Lacerda.
Operação em sete cidades
Em operação realizada nesta quarta-feira, que contou com 200 agentes em sete cidades gaúchas, seis traficantes foram presos, de um total de oito com prisão decretada e de 27 investigados por comprar dívidas e extorquir devedores. A chamada Operação Outback ocorreu em Esteio, Canoas, Sapucaia do Sul, São Leopoldo, Novo Hamburgo, Gravataí e Santa Cruz do Sul.
Em Novo Hamburgo, na casa de um dos alvos, foi apreendido o equivalente a R$ 700 mil, notas de Reais e de outras moedas. Em outra residência no mesmo município, foram apreendidas, com um dos presos, esmeraldas e barras de ouro. Os valores estão sendo avaliados e a polícia tenta identificar se foram usadas como forma de pagamento das dívidas.
O diretor da 2ª Delegacia Regional Metropolitana, delegado Mario Souza, diz que, em uma segunda etapa da investigação, a polícia vai atrás de mais credores que venderam ilegalmente as dívidas para os criminosos.
— Alguns deles já foram identificados e detidos hoje (quarta-feira), mas o trabalho continua — diz Souza.
A investigação também prossegue para identificar os líderes da facção que deram as ordens para a realização das cobranças indevidas. A maioria está no sistema prisional e será solicitada à Justiça a transferência deles para presídios federais fora do Rio Grande do Sul.
Por enquanto, não se tem um número exato de suspeitos ou de valores sobre a venda das dívidas. A nova investigação vai fazer parte de um inquérito em separado.