
Estão previstas para o mês de março as audiências sobre o sequestro de Tamires Regina Gemelli da Silva Mignoni, 30 anos, em Erechim, no norte do Rio Grande do Sul. Um homem e uma mulher seguem presos preventivamente e respondem pelo crime. Ele é apontado como mentor intelectual do crime e ela como a comparsa dele. A médica foi resgatada pela Polícia Civil em Cantagalo, no Paraná, a cerca de 400 quilômetros de onde foi arrebatada pelos criminosos.
Os réus são o vigilante Wilson Roberto Kintof, que morava em Laranjeiras do Sul, no Paraná, município onde o pai da médica é prefeito, e Cirene dos Santos Moraes, apontada pela polícia como a pessoa que ajudou a render Tamires e mantê-la em cativeiro. Kintof é apontado também pelo Ministério Público (MP) como “mentor intelectual e executor principal do crime”. Ele residia nas proximidades da casa da família da médica.
Os dois foram presos no dia 21 de outubro do ano passado, mesma data na qual a ginecologista foi resgatada pela Polícia Civil em Cantagalo, no Paraná. Tamires foi encontrada seis dias após ser sequestrada. Os policiais civis encontraram a casa que era usada como cativeiro e encontraram a médica trancada em um corredor com as portas fechadas. Em depoimento à polícia, os dois presos confessaram o crime.
Além dos relatos, a polícia obteve imagens de câmeras de videomonitoramento que mostram que os dois estiveram em Erechim no dia em que Tamires foi sequestrada. O Uno, de cor vermelha, de propriedade do vigilante, circulou pela cidade na véspera e no dia do crime. Os dois também adquiriram recargas para os celulares pré-pagos utilizados para exigir o resgate.
Um taxista e outra mulher chegaram a ser presos durante a investigação e libertados na sequência. Segundo a polícia, a participação deles no crime foi totalmente descartada. Já Kintof é acusado de ter planejado o sequestro de Tamires por longo período e extorquido a família da vítima, exigindo R$ 2 milhões para libertá-la. Cirene foi presa pela polícia logo após Tamires ser encontrada. Ela estava nas proximidades do local do cativeiro, escondida.
Audiências
No dia 11 de março, uma quinta-feira, às 13h30min, está prevista a primeira audiência, a ser realizada no fórum de Erechim. Nesta data, Tamires deverá ser ouvida pela Justiça de forma presencial. Além dela, estão previstas quatro testemunhas, uma delas é o pai da médica, Berto Silva, e o marido dela, Lucas Centenaro Mignoni. No mesmo dia, deve ser ouvido também o delegado da Polícia Civil Gustavo Ceccon.
Cinco dias depois, em 16 de março, uma terça-feira, às 9h, está prevista a segunda audiência. Entre as testemunhas ouvidas neste dia, está o delegado João Paulo de Abreu, titular da 1ª Delegacia de Polícia de Repressão a Roubos do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) – a equipe antissequestro da Polícia Civil do RS.
Nesta segunda audiência, Kintof e Cirene deverão ser ouvidos pela Justiça. Eles participarão presencialmente, assim como Ministério Público, assistente de acusação e defesa. Já as três testemunhas, que residem fora da cidade, serão ouvidas por meio de videoconferência. Os réus estão detidos no Presídio de Erechim.
Contraponto
O advogado Éverton da Silva, responsável pela defesa de Kintof e Cirene, encaminhou nota à reportagem na tarde desta sexta-feira (5), onde afirma que a participação dos réus no caso será esclarecida no processo e que não concorda com a manutenção da prisão dos dois.
Confira a nota na íntegra:
“A defesa adentrou no feito para representar, num primeiro momento, os interesses da sra. Cirene. Na semana passada, o ex-advogado de Wilson deixou o processo por motivos de foro íntimo, ocasião em que o causídico atual assumiu a defesa técnica dele também. Compreende-se a gravidade do caso e a defesa não ignora os reflexos psíquicos dos quais a vítima se recupera. Torce-se por uma melhora rápida para que retorne, o mais brevê possível, à sua vida habitual.
Tudo o que se refere ao caso e à participação de Cirene dos Santos Moraes e Wilson Roberto Kintof será esclarecido durante o processo. A Defesa se empenhará ao máximo para que nenhuma irregularidade seja cometida durante o processo, garantindo a ampla defesa e contraditório aos seus clientes, princípios indispensáveis de um Estado Democrático de Direito.
A Defesa Técnica não concorda com a prisão de Cirene e Wilson, pois são pessoas com passado irretocável, com família, trabalho, sendo o caso em apreço um fato isolado nas suas vidas. A prisão preventiva é medida excepcional e não pode servir de pena, uma vez que ambos ainda não foram condenados, gozando da plena presunção de inocência. A Defesa se coloca totalmente à disposição da imprensa, meio legítimo para informar à sociedade e, inclusive, combater a espetacularização do caso.”